12 outubro 2006

O TERROR BANALIZADO E A MORTE COMO ESPETÁCULO EM UMA GUERRA QUE NÃO EXISTIU: REFLEXÕES SOBRE O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSE

Se uma verdadeira guerra pressupõe combate entre forças minimamente estruturadas, então o que vimos no Líbano foi um verdadeiro massacre, considerando a inexistência do poder de ação desse país, a não ser a ação efetuada pelos guerrilheiros do Hizbollah, diante dos ataques israelenses. Situação que se manteve por aproximadamente um mês, com a omissão da ONU, decrépita e, em sua maioria, tendenciosa a coalizão EUA-Israel, diante de mais esse episódio no oriente Médio.
A história mostra que as disputas no Oriente Médio antecedem a era cristã, e envolvem a luta de povos por domínios territoriais e étnico-religiosos, entretanto as tensões adquirem dimensões geoeconômicas mais acirradas a partir da dinâmica geopolítica engendrada após a 2ª guerra mundial, no contexto da guerra fria, envolvendo os EUA, países europeus e os países do bloco socialista, tendo em vista aquela área constituir-se em um território geograficamente estratégico do ponto de vista comercial, militar e político, não descartando o aspecto religioso, por ser uma área habitada por adeptos de três importantes religiões: islamismo, cristianismo e judaísmo, e ainda por ser uma região que possui grandes reservas de petróleo (o que configura a sua importância econômica), somado ao fator geoestratégico de servir de passagem entre a Europa e a Ásia, indicando serem essas as verdadeiras causas de um conflito que parece não ter fim (o conflito árabe-israelense).
Neste contexto, torna-se relevante destacar o surgimento do movimento sionista, e a aliança entre judeus, EUA e países europeus, impulsionando a criação do estado de Israel. A intenção desse movimento era solucionar o problema da emigração dos judeus da Europa Oriental para Europa Ocidental. Além disso, a aproximação do povo judeu com esse grupo de países teve como pano de fundo o interesse dos Estados Unidos em conseguir um aliado naquela região, representando seus interesses econômicos, e ao mesmo tempo era para a Europa uma chance de se redimir com o povo judeu, após o holocausto.
A partir de um projeto de colonização, engendrado por franceses e ingleses, foi assinado um acordo que ficou conhecido como Sykes-Picot, no qual as referidas potências planejariam a divisão do mundo árabe em duas zonas de influência. Esse período de colonização foi favorável às intenções dos sionistas, ocorrendo em 1917 a divulgação da Declaração de Balfour, onde de fato os judeus israelitas passariam a ocupar parte da área palestina. Esse fato deu início aos constantes conflitos na área por conta da insatisfação dos palestinos e a sua luta pela independência (a Inglaterra dominava aquela região, naquele momento).
A Resolução 181 da ONU, que dividia a Palestina em dois territórios, um judeu que ocuparia 57% da área (mesmo sendo os judeus minoria na região), e outro árabe com 43%, acirrou os conflitos. De um lado os judeus sionistas tentavam criar o grande estado judeu; de outro os palestinos tentavam impedir a partilha do seu território. Em 1948, ano em que foi criado o Estado de Israel, a Palestina não só teve seu território reduzido como, a partir do uso da força militar, os israelenses tentavam dominar 100% daquele território.
Diante desse cenário, a resistência dos palestinos, e a intenção de recuperar suas terras, provocou intensos conflitos no Oriente Médio, transformando o cenário político e econômico na região. O não reconhecimento da palestina como estado constituído, por parte de Israel, provocou a diáspora do povo palestino, movimento de dispersão semelhante ao sofrido pelo povo judeu.
Foi a partir desse movimento que se originaram os campos de refugiados, onde surgiram os grupos de resistência à Israel, vários destes hoje chamados de grupos terroristas, pois alguns logo assumiram um caráter radical nos atos contra a opressão israelense. Como forma de manter a organização política e militar dos palestinos foi criada, pelos líderes árabes, a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), entretanto a organização passou a assumir características cada vez mais radicais, entrando em confronto até mesmo com determinados países árabes, verificando-se inclusive que as decisões a cerca da resistência a Israel, em alguns momentos, não consideraram a participação popular, ficando concentradas nos interesses dos líderes políticos, internos e externos.
Esta situação fez com que parte da população civil reagisse, em determinadas situações, de forma espontânea, como foi o caso da última entifada. É uma ação conduzida pelo ódio a Israel, mas que não consegue alterar a miséria que sustenta o conflito em ambos os lados, que aliados à omissão das organizações internacionais permitem e até fomentam a instabilidade dos governos desses países.
Com base em tudo o que foi exposto, ficam os questionamentos: Que direitos tem Israel, amparado por forças estadunidense e européia, de invadir e tentar ocupar o território palestino? Que democracia é essa onde se pratica o extermínio a um povo que já se mantém em seu território a mais de 3.000 anos? Que mundo é esse, reduzido pela desordem imperialista do capital, que abre mão de vidas humanas em nome de recursos naturais, indo mais além, de poder?
Assim como suas heranças históricas, materializadas nos monumentos, se dissolvem em fumaça pelos intensos bombardeios, suas riquezas etno-culturais se esvaem no sangue de crianças e jovens que perdem o direito de perpetuar sua cultura e suas crenças livremente, democraticamente em um ambiente de paz.
Diante da situação de opressão e extermínio que hoje sofre a maior parte da população do Oriente Médio, diante desse cenário cujas ações dos Estados Unidos visam unicamente formar um novo desenho geopolítico nessa região, onde possam impor seu poder, o Instituto Amazônia Solidária e Sustentável uni-se a todas as organizações que tenham como princípios: justiça social, democracia direta e liberdade, solidarizando-se especificamente com a luta do povo palestino, manifestando sua indignação e repudio ao cenário do horror que se estabelece nessa região, cenário esse que se fortalece pelo império do capital, sustentando-se no sangue derramado do povo árabe, mas também no dos judeus, dos quais a cada novo confronto resta apenas os escombros de nações inteiras.

08 outubro 2006

INSTITUTO AMAS: 1º ANIVERSÁRIO

A atual situação política brasileira tem nos mostrado, e confirmado, que não existe um “salvador da pátria”, seja personificado, ou representado por algum pequeno grupo. Cada vez mais se verifica que a concreta transformação social somente se dará a partir da organização (e ação) de estudantes e trabalhadores, do campo e da cidade, deste país e do mundo todo.

É justamente com esta compreensão que em abril de 2005 nasce oficialmente o Instituto Amazônia Solidária e Sustentável, ou simplesmente Instituto AMAS. Sendo este nascimento fruto de uma “gestação” que durou 12 meses (começou em abril de 2004). Certamente um período que ajudou a melhor formar o seu “corpo”, bem como a “mente” de seus pais e mães.

Assim, já nasce sabedor de que sua missão será, por muitos e muitos anos, ou quem sabe, por toda a sua vida, intervir na sociedade com uma perspectiva de transformação nas relações econômicas, ambientais, sociais, políticas e culturais, integradamente, almejando-as justas e igualitárias.

A coerência com sua missão, e com seus princípios, é fundamental para a garantia dos objetivos propostos pelo instituto, tarefa esta cheia de obstáculos, principalmente quando no ano da comemoração de seu 1º aniversário verificam-se também os 16 anos de aplicação do projeto liberal no Brasil, 12 anos no Pará, o 1º ano do assassinato da irmã missionária Doroth Stang e os 10 anos do covarde massacre de Eldorado do Carajás, execrável obra prima do médico e ex-governador tucano Almir Gabriel (e de sua PM) que, como diz um sábio cartaz, “não perdoaremos, nem esqueceremos!”.

Neste pouco tempo de vida o Instituto AMAS já realizou algumas importantes atividades, entre estas estão oficinas de formação no município de Gurupá/PA; participação no Fórum Paraense de Educação do Campo e no Fórum de Segurança Alimentar; bem como parcerias e contatos com diversas organizações dos movimentos sociais e populares existentes na região amazônica.

Observa-se que uma das grandes contribuições, que este instituto pode dar ao processo de transformação social, está pautada na compreensão de formação técnica e política de seus membros, bem como de todos aqueles que com ele se relacionem, procedimento que tem como finalidade garantir uma intervenção mais qualificada e propositiva nas diversas áreas discutidas, bem como nos trabalhos realizados. Um dos exemplos desta compreensão são os grupos de estudos implementados como estratégia de aprofundamento do conhecimento para a ação.

Finalmente, as associadas e associados do Instituto AMAS, sabedores das dificuldades e sacrifícios que já foram feitos, e também dos que ainda serão, agradecem a todas as organizações e colaboradores, amigos e amigas que tem contribuído com o desenvolvimento deste instituto. Sabemos que com este apoio nossa missão, motivo de nossa existência, certamente será alcançada.