11 novembro 2007

Inquietações sobre o Fórum Amazônia Sustentável

Na ilha São Luís, Maranhão, existe uma fábrica de alumínio da ALCOA há mais de duas décadas. O Sindicato dos Metalúrgicos tem denunciado abusos de toda ordem por parte da multi-nacional estadunidense. Há passivos sobre problemas de saúde oriundos de praticas laborais, assédio moral e ainda impactos ambientais. A coerção pública e privada contra ações do sindicato tem sido pauta constante do boletim da entidade dos trabalhadores. Quem melhor conhece os passivos ambientais é a população rural vizinha à fábrica, que padece com problemas de poluição dos recursos hídricos e redução da quantidade de peixes.
No município de Barcarena, Pará, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), mantém duas fábricas da cadeia produtiva do alumínio, a Alunorte, que transforma a matéria prima bauxita em alumina, e a ALBRAS, que transforma a alumina em alumínio. Uma associação em defesa dos operários e ex-operários das fábricas tenta a todo custo encaminhar passivos na área da saúde laboral. Há registros de problemas neurológicos e cardíacos entre outros.
Segundo a coordenação da associação há cerca de 120 pessoas com graves problemas. Ao se constatar os problemas de saúde, a demissão tem sido o atalho mais comum. Quando ainda possuía uma direção de caráter combativo o Sindicato dos Químicos de Barcarena cumpria o papel de encaminhar nas mais diversas esferas as questões de assédio moral, saúde e ambiental contra as empresas da CVRD.
Na derradeira eleição, que teve como resultado a derrota da chapa cutista, até coerção física foi registrada contra a ex-diretoria do sindicato, que segundo a direção da CUT Pará, só perdeu a eleição por conta do aporte da empresa. No aspecto trabalhista, a companhia contabiliza mais de 8 mil denúncias na região de Carajás, município de Parauapebas, sudeste do Pará. Nos estados onde as empresas atuam não se noticia nada contra as mesmas, que graças a uma eficiente política de marketing neutraliza a imprensa.
Nas academias é vasto o material que aborda o caráter de enclave que conforma a atividade de mineração na Amazônia, onde se maximiza os louros em outras plagas e se socializa todos os tipos de mazelas no entorno dos grandes projetos. As duas empresas em questão, a CVRD e a ALCOA patrocinaram o lançamento e integram o Fórum Amazônia Sustentável, lançado em Belém, no derradeiro dia 05 de novembro. O cordão ganha robustez com a adesão da maior rede de setores populares da região, o Grupo de Trabalho Amazônia (GTA) e também ONG´s. É a força da grana que predomina?

Recursos naturais e a sustentabilidade
As duas empresas em relevo possuem abissais interesses nos recursos da região e estão em processo de ampliação das respectivas fábricas. Bem como são associadas em vários empreendimentos de produção de energia, hidrelétricas, como a localizada na tensa fronteira do Maranhão com o Tocantins, no município de Estreito. A energia é o principal insumo na produção do alumínio. Por isso tornou-se comum enfatizar que lingote de alumínio é exportação de energia concentrada e subsidiada pela sociedade. A CVRD tem um vasto portfólio em logística que passa por hidrelétricas, termelétricas e ferrovias, além da ampliação de exploração de várias frentes de mineração.
Já a ALCOA, além do interesse na geração de energia, pleiteia a exploração de bauxita no oeste do Pará, no antes pacato município de Juruti. As peças sobre os impactos sociais e ambientais (EIA/RIMA), exigências no processo de licenciamento de exploração, são um capítulo à parte. Comumente verdadeiras pérolas de omissão e manipulação de dados. Sem falar nas audiências públicas, onde as mesmas são apresentadas, de causar inveja a qualquer performance do circo de Soleil.
Nada mais estratégico para a “boa imagem” das empresas que criar um espaço de “debate” sobre sustentabilidade da região. Ainda mais quando à cada dia o debate sobre o tema transborda diversas agendas. O marketing tem aflorado como a principal dimensão na apropriação sobre a categoria sustentável quando se analisa a perspectiva das empresas. Sobre a questão, o professor de semiótica Edílson Cazeloto em artigo intitulado: “Entre ecorrevolucionários e ecorreformistas o papel da mídia”, publicado na edição 36, setembro/2007 da revista Democracia Viva/IBASE, esclarece com sobriedade a disputa sobre a categoria.
Em um trecho da análise o professor enfatiza: “Enquanto a maior parte da humanidade vê no aquecimento global a iminência de uma tragédia ímpar, os bens aventurados do capital, já sentem no ar o cheiro de oportunidades para o lucro. Para essa parcela, a sustentabilidade tornou-se uma forma de agregar valor às marcas de seus produtos e ao capital de suas empresas. É o chamado capitalismo verde, que vem ganhando a adesão de empresas (na maioria, corporações globais) como um novo Eldorado.”

Rogério Almeida é mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), autor do livro Araguaia-Tocantins: fios de uma História camponesa (2006), e colaborador da rede www.forumcarajas.org.br
Correio eletrônico:
araguaia_tocantins@hotmail.com