O Brasil, ao longo de seu desenvolvimento histórico, sempre apresentou no seu processo educativo um modelo voltado para a manutenção de uma estrutura autoritária, delimitada sob os marcos do capitalismo, onde a educação assumiu o papel de atender a uma demanda mercadológica, na qual o saber escolar determina a acessibilidade aos espaços produtivos da lógica capitalista.
Portanto, é sintomático que a educação popular tenha desempenhado um papel relevante nas iniciativas não formais no processo de valorização, qualificação e efetivação de ações educacionais, sobretudo a partir da década de 70 do século XX.
Entretanto, o debate sobre o processo educativo no Brasil requer uma reflexão sobre a importância do papel do professor na formação de sujeitos críticos e reflexivos dentro do seu trabalho como educador. O trabalho de formação deve ser desenvolvido a partir da análise e da reflexão do formador quanto a sua atuação, uma relação constante entre a teoria e a prática. A educação popular, portanto pode ser pensada como campo fértil para o desenvolvimento de uma ação democrática libertadora, envolvendo uma opção política com base na luta pela cidadania, expressando um processo educativo permanente e cotidiano.
Giroux (1997) [1], ao analisar o sistema de ensino destaca o papel do professor no processo de formação e da necessidade deste de se integrar ao processo de produção do conhecimento como intelectual que não se limita a executar as demandas tecnocráticas, mas que intervenha no sistema de ensino a partir de sua produção intelectual de forma que venha a contribuir com sua análise e participação no processo de escolarização.
É partindo dessa visão que se busca uma formação de professores compatível com as necessidades específicas de cada contexto social em que está inserido esse profissional, considerando as diversidades regionais e locais. Desta perspectiva partiu o trabalho de formação de educadores desenvolvido pelo Instituto Amazônia Solidária e Sustentável, experiência ocorrida no período de 2005 e 2006, no município de Gurupá-PA.
O Instituto AMAS realizou um trabalho de formação continuada em Gurupá-PA, com ênfase na concepção freireana, acreditando na educação como um dos instrumentos para transformação social. Este Instituto, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Gurupá, participou do “Projeto EJA - Oficinas de formação continuada para professores e professoras da EJA”, daquele município.
O objetivo proposto pelo Instituto, para o projeto, foi o de possibilitar a formação continuada de professores e professoras da EJA (Educação de Jovens e Adultos), na perspectiva de construir uma base teórica, “a fim de desencadear uma reflexão crítica e propositiva a cerca do fazer pedagógico, visando a construção de uma proposta educacional pública, popular e libertadora” [2], tendo como eixos temáticos: Organização social e participação popular; Educação ambiental: uma perspectiva interdisciplinar; Educação popular na concepção Freireana; Educação popular e economia solidária; Legislação da educação de jovens e adultos; Língua Portuguesa e Artes.
As atividades foram desenvolvidas através de discussões e debates; atividades em pequenos grupos; palestras interativas e laboratório pedagógico. Houve também trabalho de campo que incluiu pesquisa e elaboração de texto sobre as temáticas trabalhadas.
As oficinas ministradas pelo Instituto AMAS contribuíram com a atuação dos professores no processo de planejamento e elaboração do sistema municipal de educação ocorrido naquele município posteriormente às oficinas de formação. Um outro ponto importante a ressaltar é o nível de politização existente entre aqueles professores(as), os quais buscaram, por meio da organização e da reivindicação, garantir meios de qualificar a sua atuação profissional e melhorar as suas condições de trabalho. Isto se configura no processo de organização do sistema de ensino daquele município, cujos professores(as) desempenham um papel fundamental com a sua participação nos debates e elaboração das políticas. Ainda que estas possivelmente não venham a atender todas as suas demandas, efetivamente.
[2] AMAS, Instituto. Relatório Geral – Projeto EJA. 2006, p.4.
Ivaneide C. Santos é Geógrafa, especialista em Educação, Cultura e Organização Social - Centro de Educação/UFPa. É associada do Instituto Amazônia Solidária e Sustentável (AMAS). neidecoelho@yahoo.com.br