Por Fabiana Batista, da Gazeta Mercantil
Enquanto o foco do desmate recai sobre o estado de Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, há indicativos de que a retirada ilegal de florestas esteja crescendo mais ao norte do País, nova fronteira da pecuária. A ONG Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) estima que os focos de desmate no Pará, por exemplo, sejam o dobro dos 591 identificados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) entre agosto e dezembro de 2007.
"A pecuária continua sendo o motor desse tipo de prática no bioma amazônico e achamos que, se houve aumento, ele ocorreu no Pará, estado onde os satélites têm dificuldade de visibilidade por conta do número elevado de nuvens", avalia Adalberto Veríssimo, pesquisador-sênior do Imazon.
A ONG estima que apenas um terço da pecuária presente na Amazônia seja tecnificada, exportadora e dentro da legalidade. "A atividade nessa região cresce 7% ao ano. O rebanho atual se aproxima de 75 milhões de cabeças nos nove estados da Amazônia Legal", diz.
Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, explica que, de fato, a área de pastagem no Brasil foi migrando pro Norte, "empurrada", pela agricultura de grãos, com maior rentabilidade.
O conflito sobre quem é o responsável pela iniciativa de desmate, se a atividade madeireira ou a pecuária é controversa. "A necessidade de abrir essa área com menor custo pode favorecer esse tipo de ‘parceria‘ entre madeireiro e pecuarista", diz Rosa. Mas é evidente que é para o Norte que está se deslocando a oferta de bovinos. "Os grandes grupos frigoríficos estão instalados ou se instalando lá. No Pará, por exemplo, o Bertin tem quatro unidades, e o Minerva está construindo uma. Em Rondônia, onde há quatro anos não havia nenhum grande frigorífico, atualmente tem unidades do Friboi, do Marfrig, do Independência e do Minerva", exemplifica Rosa.