27 setembro 2007

A reforma agrária para o agronegócio: crime à vista no Pará (Capítulo 01 – Os fatos)

Terminei o último artigo informando que o recorde dos assentamentos da SR de Santarém no Pará em 2006, encobria o uso da reforma agrária como “instrumento” de uma a ação criminosa, para beneficiar o agronegócio da madeira e a grilagem de terras públicas. Informei também os leitores que a política de reforma agrária do governo Lula está marcada por dois princípios: não fazê-la nas áreas de domínio do agronegócio e, fazê-la nas áreas onde ela possa “ajudar” o agronegócio. Pois bem, no estado do Pará o Incra deliberadamente, usou de estratagemas para permitir que o setor madeireiro e os grileiros de terras públicas fossem favorecidos nos assentamentos de reforma agrária. Foi como diria certo político no passado: um verdadeiro crime lesa Pátria. Vamos ao resumo da ponta do iceberg, pois as investigações continuam, e por certo vão revelar a lama que estão jogando sobre a tão desejada reforma agrária dos sem terras.
Em primeiro lugar, no dia 15/08/2007 o Ministério Público Federal através dos procuradores da República no Pará, Felipe Braga e Marco Antonio Almeida, ingressaram na Justiça Federal de Santarém com uma ação civil pública para anular 99 portarias de criação de assentamentos da reforma agrária emitidas pela SR 30 de Santarém, em 2005 e 2006, sem licença ambiental. A ação também teve por objetivo anular duas cláusulas do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado entre o Incra e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam). A partir deste TAC seria permitida a dispensa da licença de viabilidade ambiental e a posterior liberação de planos de manejo para os assentamentos criados sem licença ambiental. Segundo o MPF, todos os Projetos de Assentamento (PAs), Projetos de Assentamento Coletivo (PACs) e Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs) instalados na região entre 2005 e 2006, foram assentamentos criados sem estudos de viabilidade ambiental, apenas com levantamentos técnicos resumidos, sem informações geográficas, mapas ou perfil sócio-econômico da região, e particularmente sem laudo agronômico, imagem de satélite georeferenciada, planta de localização, mapa de áreas de prioridade biológica e mapa de classes de capacidade de uso das terras e "não atendem a uma autêntica demanda de potenciais clientes da reforma agrária e são resultado da pressão do setor madeireiro junto às esferas governamentais, que vislumbram nos assentamentos um estoque de matéria-prima cujo manejo é objeto de um licenciamento mais rápido". (Carlos Mendes, Estadão On-line, de 15/08/2007, às 20:59 hs).
Estes fatos já vinham sendo denunciados pela imprensa há pelo menos dois anos informou o jornalista Paulo Leandro Leal de Santarém, pois o próprio superintendente do Incra da SR 30, Pedro Aquino, em entrevista à imprensa em 2005, disse que iria criar os assentamentos na região "na marra". (www.pauloleandroleal.com). E mais, informou o MPF que vários assentamentos também estariam sobrepostos ao Parque Nacional da Amazônia, unidade de conservação de área de proteção integral, em Itaituba, que não permite nenhuma ocupação humana.
No dia 19/08/2007, quatro dias depois, o Greenpeace através do programa Fantástico da Rede Globo, da revista Época, e de vídeo em seu portal, “denunciou o Incra por facilitar a atuação de empresas madeireiras em áreas de assentamentos rurais na região de Santarém, no Pará.” Informando que “levantamentos de campo e documentos comprovam que o órgão estimula o estabelecimento de parcerias entre madeireiras e supostas associações de assentados, em um esquema que prejudica a floresta amazônica e milhares de famílias de trabalhadores rurais sem-terra.” (www.greenpeace.org/brasil).
Mas, o MDA/Incra em comunicado lacônico e impreciso de 20/08/07 às 15:08, procurou dar explicações desqualificando os fatos, e afirmou que “nenhum dos assentamentos realizados nos últimos quatro anos envolveu transferência de populações de região. Todos os beneficiários de assentamentos habitavam a região em que foram assentados.” E concluiu mentindo que a denúncia não procedia afirmando que “ao repor as informações corretas sobre o tema, cabe acrescentar que toda a denúncia (seja da imprensa ou da sociedade civil), mesmo que contendo informações incorretas ou imprecisas, terá neste Ministério a imediata apuração e serão tomadas as providências necessárias.” (www.mda.gov.br e www.Incra.gov.br).
Entretanto, em 28/08/2007, a denúncia foi acatada pela justiça federal e “liminar foi concedida pelo juiz Francisco de Assis Garcês Castro Júnior, da Subseção de Santarém, determinando a interdição de 99 projetos de assentamentos implementados pelo Incra região oeste do Pará, a partir de 2005 até este ano. O magistrado também proibiu a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sectam) de emitir novos licenciamentos em projetos do Incra, como vinha fazendo, sob pena de ser multada em R$ 10 mil por dia. A interdição, segundo o juiz federal, vai perdurar até que o Incra obedeça às exigências legais que atribuem ao Ibama e não a um órgão estadual, a competência de fazer estudos de viabilidade e de emitir licença prévia de projetos de assentamento para os quais são repassados recursos federais.” (www.pa.trf1.gov.br/noticias/ver.php?id=467).
Foi por causa dessas irregularidades que o MDA/Incra, até hoje não publicou a relação dos beneficiários da reforma agrária de 2006, conforme havia anunciado em seu portal em 30/01/2007 às 11:01hs. E mais, como o MPF informou antecipadamente o INCRA que iria entrar com a ação na justiça federal, tratou a SR 30 de Santarém de tentar começar a limpar parte dos crimes cometidos e através das Portarias n. 10, 11, 12, 13 e 14 de 06/08/2007, publicadas no DOU de 08/08/2007, cancelou as portarias que em outubro e novembro de 2006 haviam criados cinco assentamentos proposital e criminosamente sobrepostos ao Parque Nacional da Amazônia em áreas griladas por madeireiros.
Mas, felizmente também, quis a justiça que mais uma prova da denúncia viesse à tona pelos próprios funcionários do Incra da SR 30 de Santarém, que em 21/08/2007, através de nota emitida pela Associação dos Servidores da Reforma Agrária (Assera) do Oeste do Pará deu provas cabais dos crimes cometidos, quando informou que “os servidores ... nos últimos meses foram atropelados por decisões verticais e unilaterais na criação e na extinção de assentamentos, na desafetação de áreas, na homologação de beneficiários (muitas pessoas sem perfil foram homologadas), na realização de convênios, na liberação de créditos, etc. Assim sendo, inúmeras decisões técnicas foram e são tomadas com critérios políticos, sem consulta ao corpo de profissionais da instituição e desobedecendo inclusive a legislação agrária, ambiental e até mesmo as normas internas do próprio Incra ... Questionamos desde o primeiro momento a proposta de Parceria Público Privada entre assentados e indústria madeireira, proposta alardeada pela Superintendência do Incra como novo modelo de reforma agrária para a Amazônia. É preciso dizer ainda que a responsabilidade por qualquer irregularidade deve ser compartilhada com a direção nacional do Incra e do MDA ...”
Assim, caberá agora a justiça federal julgar os crimes cometidos contra a reforma agrária do MDA/Incra no Pará, mas os que irão a julgamento, são os personagens da urdida trama, e, há muitas provas contra eles, mas esta é uma história para outro capítulo em nosso próximo artigo.

Ariovaldo Umbelino de Oliveira
(*) Professor titular de Geografia Agrária pela Universidade de São Paulo (USP). Estudioso dos movimentos sociais no campo e da agricultura brasileira, é autor, entre outros livros, de "Modo capitalista de produção (Ática, 1995)", "Agricultura camponesa no Brasil" (Contexto, 1997).

Fonte: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3040&Itemid=43font

26 setembro 2007

NOTA PÚBLICA

A Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), entidade de classe que congrega os Membros do Ministério Público do Trabalho de todo país, vem a público externar sua preocupação com os fatos relacionados à interrupção das atividades do Grupo Especial de Fiscalização Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, anunciada na última sexta-feira (21/09).
Em junho deste ano integrantes do Grupo Móvel de Fiscalização, formado por Auditores Fiscais do MTE, Procuradores do Trabalho, Delegados e Agentes da Polícia Federal, flagraram 1.064 trabalhadores submetidos a condições degradantes na fazenda Pagrisa, localizada em Ulianópolis (PA).

Na quinta-feira (20/09), em visita à fazenda Pagrisa, os Senadores integrantes da Comissão Temporária Externa do Senado Federal desqualificaram a ação do Grupo Móvel.
Em resposta às declarações dos senadores e às pressões sofridas pelos integrantes do Grupo, a Secretária de Inspeção do Trabalho do MTE, Ruth Vilela, decidiu suspender, por tempo indeterminado, as atividades de fiscalização.
A referida suspensão causa enorme preocupação porque compromete, enormemente, o combate ao trabalho escravo no país e deixa à mercê da própria sorte milhares de trabalhadores que estão sendo privados de seus direitos trabalhistas e do livre direito de ir e vir.
O clima de instabilidade institucional, deflagrado por reivindicações punitivas sumárias aos integrantes do Grupo Móvel e sugestões limitativas do esforço dessa atividade, prejudica a consecução do compromisso de erradicar o trabalho escravo no país, assumido pelo Estado brasileiro perante organismos internacionais e perante a sociedade com a instituição do Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo em 2003. É inadmissível que o trabalho exitoso, desenvolvido pelo Grupo Móvel desde 1995, tenha sua continuidade ameaçada por pressões de quaisquer naturezas.
Nada justifica que um caso corriqueiro de fiscalização tenha resultados tão nefastos. Os contornos de tal caso e as responsabilizações devidas devem ater-se ao âmbito da normalidade institucional, com a possibilidade do contraditório e da ampla defesa na esfera administrativa e judicial. Tais garantias já estão à disposição dos que se sentirem prejudicados, seja a ampla defesa administrativa dos autos de infração, seja o acompanhamento dos procedimentos que prosseguem no Ministério Público do Trabalho, seja a resposta à ação penal ajuizada pelo Ministério Público Federal que, endossando as conclusões do Grupo Móvel, imputou aos proprietários da Pagrisa os crimes de frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho (artigo 203 do Código Penal), de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente (artigo 132) e de reduzir alguém a condição análoga à de escravo (artigo 149).
A Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), ao tempo que reitera sua confiança no correto funcionamento das instituições e no trabalho desenvolvido pelo Grupo Especial de Fiscalização Móvel, repudia as indevidas pressões que prejudicam a erradicação do trabalho escravo e degradante.

Brasília-DF, 25 de setembro de 2007.

Sebastião Vieira Caixeta
Presidente

Justiça Federal aceita denúncia contra Pagrisa por trabalho escravo no Pará

Ontem (24), a Justiça Federal acatou a denúncia feita pelo Ministério Público Federal e irá processar os proprietários da Pagrisa - maior produtora de álcool no Pará - por manter 1064 trabalhadores em condição de escravidão.
Murilo, Fernão e Marcos Villela Zancaner serão responsabilizados com base em relatório feito pelo Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho. Os trabalhadores - a maior parte deles, cortadores de cana - tinham condições de trabalho degradantes em instalações da empresa em Ulianópolis (417 km de Belém).
O grupo móvel afirma em seu relatório que os trabalhadores estavam presos à propriedade por terem contraído dívidas que não conseguiam pagar com os salários que recebiam.
No documento estão detalhadas as condições em que os trabalhadores eram mantidos: dormiam em alojamentos sem nenhuma estrutura; não recebiam água potável durante a jornada de trabalho e bebiam água quente e suja, tirada de um caminhão-pipa estacionado no canavial.
As instalações sanitárias eram precárias, sem qualquer higiene ou conservação. A baixa qualidade e estado de conservação dos alimentos e a preparação numa cozinha suja acarretou infecção gastrointestinal a muitos trabalhadores.
Para o MPF, a gravidade dos crimes cometidos pelos irmãos Zancaner justifica a aplicação da pena máxima de 15 anos de prisão. A análise de seis procuradores da República, pedida pelo MPF, considerou robustas as provas de "condições degradantes de trabalho e moradia, infligidas coletivamente aos trabalhadores braçais nas plantações de cana de açúcar".
De acordo com o advogado da empresa, entrevistado pelo jornal Folha de S. Paulo, não há provas concretas de trabalho escravo. Para ele, existiam problemas, como em qualquer empresa. A Pagrisa nega as acusações e diz que o MPF levou em conta apenas o relatório dos fiscais para fazer a denúncia.

Fiscalização
As ações de fiscalização de combate ao trabalho escravo foram suspensas na última sexta-feira sob a alegação de pressão de senadores em favor da empresa. Ruth Vilela - secretária de Inspeção do Trabalho - em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, alegou "insegurança sobre as ações desenvolvidas pelo Ministério do Trabalho".
Na última quinta-feira (20), os senadores Jarbas Vasconcelos (PSDB-PE), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Kátia Abreu (DEM-TO), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Romeu Tuma (DEM-SP), integrantes da comissão externa formada para tratar do caso, visitaram as instalações da fazenda. Ao final da visita, porta-vozes do grupo declararam que as condições de trabalho na fazenda eram adequadas e colocaram em xeque o trabalho do grupo móvel.
Entidades do poder público e da sociedade civil envolvidas no combate ao trabalho escravo no Brasil reprovaram a manobra de um grupo de senadores que tenta deslegitimar a atuação do grupo móvel de fiscalização do trabalho do governo federal.
No próprio Senado, a postura do grupo de parlamentares foi criticada. Em comunicado oficial, o senador José Nery (PSol-PA), presidente da Subcomissão Temporária do Trabalho Escravo, foi incisivo: "Na contramão do esforço nacional contra o trabalho escravo, a Comissão Externa do Senado optou por um alinhamento incondicional aos interesses da empresa denunciada, sem que houvesse a pluralidade exigida pelo caso".

Charles Nisz
Fonte: http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=253270

24 setembro 2007

Agronegócio tenta flexibilizar combate ao trabalho escravo

A Secretaria de Inspeção do Trabalho anunciou no último dia 20 a suspensão por prazo indeterminado de todas as fiscalizações de denúncias de trabalho escravo no país. Esta decisão visa resguardar a segurança dos funcionários integrantes do Grupo Móvel frente às ingerências sofridas no exercício do seu papel legal, especialmente a partir da fiscalização da Usina Pagrisa, no Pará, realizada no final de junho, resultando na retirada de 1.064 cortadores de cana.
O corte imediato das compras de etanol da Pagrisa pelas distribuidoras de combustível despertou sucessivas manifestações de desespero nos setores ligados à bancada ruralista do Senado Federal: pressões diretas sobre os integrantes do Grupo Móvel, no dia mesmo da fiscalização, visando paralisá-la; audiência conturbada, em seguida, no gabinete do ministro do trabalho, com ataques virulentos contra a Dra. Ruth Vilela, secretária da fiscalização do MTE; aprovação de requerimentos no Senado organizando a visita in loco de uma comissão de senadores e programação de uma audiência, a pedido da senadora Kátia Abreu, para inquirir o coordenador da operação de fiscalização na Pagrisa, Humberto Célio, intimado a comparecer sozinho em meio a 'leões' todos declaradamente hostis ao princípio mesmo da fiscalização.
Em função disso, a Comissão Pastoral da Terra, em acordo com seus principais parceiros, está solicitando a convocação extraordinária da CONATRAE, Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.
Simbolicamente escolhido na hora em que as oportunidades abertas no mercado mundial para o etanol brasileiro parecem sem limites, o caso Pagrisa se tornou a bola da vez para os detratores do combate ao trabalho escravo, empenhados há tempo numa queda de braços com o Governo Federal visando acabar de vez com o poder de fogo da fiscalização do trabalho escravo nas terras do agronegócio e desqualificar a política nacional de erradicação em vigor no país desde 2003.
O ministro do trabalho, Carlos Lupi, defendeu abertamente a operação de fiscalização na Pagrisa em reunião da Conatrae, no dia 31 de julho, quando todos os integrantes da Comissão – com exceção da CNA - aprovaram uma nota pública de apoio às ações do grupo móvel. Também endossaram o relatório da fiscalização produzido pelo Grupo Móvel a Coordenação Nacional do Combate ao Trabalho Escravo do Ministério Público do Trabalho (CONAETE) e a Polícia Federal. Por sua vez, o Ministério Público Federal no Pará ajuizou ação penal por trabalho escravo contra os proprietários da Pagrisa.
Como era de se prever, o resultado da visita da comissão do Senado ao local, dois meses e meio após o ocorrido só podia revelar um cenário de relações trabalhistas idílicas e resultar em mais um round de deboche contra a atuação dos fiscais. O cúmulo é o requerimento apresentado pelos senadores à Polícia Federal para instauração de inquérito contra os fiscais visando apurar vários crimes, tais como abuso de poder e falsidade ideológica.
A crise atual é deliberadamente provocada por setores que não pouparam esforços para desacreditar e derrotar a política nacional de combate ao trabalho escravo (Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) contra a 'Lista Suja' dos proprietários flagrados com escravos; bloqueio de mais de 12 anos contra a aprovação da PEC do confisco das terras onde for constatada a prática da escravidão) e que hoje confirmam seu intento de aprovar 'possíveis mudanças na legislação que dispõe sobre trabalho em condições degradantes', ou seja: apresentar novos projetos visando enfraquecer o combate ao trabalho escravo. O auge do enfrentamento ocorre exatamente no momento em que vários estados, também interessados em se livrar da mancha vergonhosa da escravidão moderna associada à sua principal pauta de exportação, têm anunciado planos para se juntarem à política federal de combate ao trabalho escravo e, com ela, somar forças (Maranhão, Tocantins, Bahia, Pará, Piauí e até Mato Grosso).
A Comissão Pastoral da Terra recusa a opção enganosa imaginada pelos detratores do combate ao trabalho escravo entre produzir a contento e garantir a dignidade do trabalho, e denuncia sua perversa manobra.
O momento atual é decisivo para a definição dos rumos a serem seguidos daqui para frente:
- Será que, em nome dos imediatos interesses mercantis do crescimento do agronegócio, tudo deve ser permitido e o combate à escravidão também 'flexibilizado'?
- Ou será o Brasil capaz de fazer das oportunidades que se lhe apresentam hoje no mercado mundial a ocasião para corrigir de vez as conhecidas mazelas de um modelo de desenvolvimento incompatível com as universais exigências de dignidade no plano do trabalho e de sustentabilidade no plano ambiental?

Goiânia, 24 de setembro de 2007

Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra

Coordenação da Campanha da CPT contra o Trabalho Escravo

Informações à imprensa:
frei Xavier Plassat – (63) 3412-3200
José Batista Afonso – (94) 3321-1461 / 3321-2229

Cristiane Passos
Assessoria de Comunicação
Comissão Pastoral da Terra
Secretaria Nacional - Goiânia, Goiás.
Fone: (62) 4008-6406/6412/6200
www.cptnacional.org.br

23 setembro 2007

Ministério suspende fiscalizações de trabalho escravo

A Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) informou, nesta sexta-feira (21), que suspendeu todas as novas operações que fiscalizariam denúncias de trabalho escravo no país por tempo indeterminado.
De acordo com memorando de Ruth Vilela, chefe da secretaria, direcionado ao ministro do Trabalho Carlos Lupi, o motivo foi a desqualificação de uma operação de libertação de escravos por uma Comissão Temporária Externa do Senado Federal e ameaças feitas por esta comissão contra os fiscais do trabalho. Nesta quinta-feira (20), cinco senadores visitaram a fazenda Pagrisa, localizada em Ulianópolis (PA), que no dia 30 de junho foi palco da maior libertação de trabalhadores da história do país. O todo, 1.064 trabalhadores que atuavam na lavoura de cana-de-açúcar foram resgatados pelo grupo móvel de fiscalização - formado por auditores fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), procuradores do Ministério Público do Trabalho e delegados e agentes da Polícia Federal.
A visita parlamentar contou com a presença dos senadores Romeu Tuma (DEM-SP), Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Kátia Abreu (DEM-TO), Cícero Lucena (PSDB-PB) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Eles anunciaram que irão pedir a abertura de inquérito da Polícia Federal para verificar os procedimentos adotados pelo grupo móvel durante a autuação da Pagrisa. Segundo a Agência Senado, Kátia Abreu afirmou que a empresa "é muito bem administrada e forma uma comunidade de trabalhadores rurais", explicando o porquê de uma investigação aprofundada sobre o grupo móvel. A senadora é uma das maiores opositoras do combate ao trabalho escravo contemporâneo. Quando deputada federal, defendeu os produtores rurais flagrados cometendo este tipo de crime e atuou contra a aprovação de leis que contribuiriam com a erradicação dessa prática.
De acordo com a Secretaria de Inspeção do Trabalho do MTE, a visita dos senadores, que atacaram veementemente a fiscalização, instalou um clima de insegurança que colocou em risco a continuidade das operações. Vale lembrar que os auditores fiscais do trabalho que atuam na zona rural têm sido vítimas de violência por parte de fazendeiros descontentes com as autuações. O caso mais famoso foi a chacina de três auditores e um motorista do MTE no dia 28 de janeiro de 2004, em Unaí (MG), durante uma fiscalização de rotina. Mas não é o único: em 8 de fevereiro do ano passado, o grupo móvel foi recebido a balas por fazendeiros, apoiados por policiais militares, em Nova Lacerda (MT). Ameaças contra o grupo já eram uma constante antes das declarações dos senadores.
Os grupos móveis de fiscalização foram criados em 1995, quando o Brasil reconheceu formalmente a existência de trabalho escravo contemporâneo em seu território. Desde então, essas equipes libertaram cerca de 26 mil pessoas, alçando o país a exemplo internacional no combate a esse crime, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho. A suspensão das atividades devido à insegurança institucional gerada ao ataque público de um dos Três Poderes pode abalar a reputação do país no exterior, uma vez que o Brasil não conseguirá cumprir os compromissos assumidos dentro e fora do Brasil, de erradicar completamente a escravidão, sem o seu principal instrumento de combate à escravidão.
O MTE está consultando a Advocacia Geral da União sobre as medidas que deve tomar com relação às ações do Senado.
Em ofício destinado ao MTE, o subprocurador-geral do Trabalho e coordenador nacional de combate ao trabalho escravo do Ministério Público do Trabalho, Luiz Antônio Camargo, endossou o relatório elaborado pelo coordenador da ação Humberto Célio Pereira sobre a ação na Pagrisa. A Polícia Federal enviou um documento semelhante, citando o desacordo com as leis trabalhistas em vigor e a pressão que o grupo móvel sofreu durante a fiscalização na fazenda.
O Ministério Público Federal no Pará ajuizou, nesta sexta-feira (21), ação penal por trabalho escravo contra Murilo Vilella Zancaner, Fernão Villela Zancaner e Marcos Villela Zancaner, proprietários da Pagrisa por causa da ação de libertação dos trabalhadores. Eles são acusados de frustrar, mediante fraude ou violência, direito assegurado pela legislação do trabalho (artigo 203 do Código Penal), expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente (artigo 132) e reduzir alguém a condição análoga à de escravo (artigo 149).
De acordo com a assessoria do MPF, a gravidade dos crimes cometidos pelos irmãos Zancaner justifica a aplicação da pena máxima de 15 anos de prisão. O relatório do grupo móvel de fiscalização foi analisado por seis procuradores da República, que consideraram fortes as provas de "condições degradantes de trabalho e moradia, infligidas coletivamente aos trabalhadores braçais nas plantações de cana de açúcar". A empresa também é acusada de forçar os trabalhadores a jornadas exaustivas de até 14 horas de trabalho, sem pagamento de horas extras, já que o ponto de saída e entrada era assinado ao mesmo tempo pelos fiscais da empresa.
O MPF concluiu, com base nas provas e no relatório, que os irmãos Zancaner, "dotados de vontade livre e consciente, reduziram os 1064 trabalhadores a condição análoga à de escravo, submetendo-os a trabalhos forçados, a jornada exaustiva e cerceando a liberdade de locomoção desses trabalhadores, por meio da dificuldade de saída da fazenda, pela parca percepção de vencimentos, atrelada à cobrança excessiva pelos medicamentos e à cobrança de transporte para a cidade". A ação tramita na vara federal de Castanhal com o número 2007.39.04.000812-4.
Legislativo contra Executivo
A Comissão Externa foi criada a partir de um requerimento do senador Flexa Ribeiro. José Nery (PSol-PA) chegou a propor que a visita contasse também com a presença de membros da Comissão Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), mas a proposição não foi aprovada pelos seus pares. A Comissão só contou com parlamentares favoráveis à Pagrisa.
"A demissão em massa dos empregados vem ocasionando manifestações discordantes do procedimento empregado pela fiscalização, especialmente de entidades civis, líderes locais e da população do município, apreensivos com as conseqüências da demissão", afirmou na época Flexa Ribeiro.
Desde a megaoperação, o senador vem realizando lobby pela empresa, que cultiva cana-de-açúcar e produz açúcar e etanol. Em reunião no gabinete do ministro Carlos Lupi (PDT), no dia 12 de julho, ele acusou o grupo móvel de fiscalização do MTE de abuso de poder. Também estavam presentes na reunião os deputados Giovanni Queiroz (PDT-PA) e Paulo Rocha (PT-PA), além do presidente da empresa, Marcos Villela Zancaner, do presidente da Federação das Indústrias do Estado do Pará, José Conrado, e do presidente da Confederação Nacional da Pesca e Aqüicultura, Fernando Ferreira.

Leonardo Sakamoto - Da Repórter Brasil
Fonte: http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1187
OBS: Esta é parte da matéria original, para ler o conteúdo integral do texto acesse o link (da Agência de Notícias Repórter Brasil) acima indicado.

Para senadora, caso [Pagrisa] deve ser exemplo

Relatora da comissão temporária externa da Pagrisa, criada pelo Senado para apurar as denúncias de trabalho escravo feitas contra a empresa pela fiscalização do Ministério do Trabalho, a senadora Kátia Abreu (DEM/TO) disse ontem que este caso deverá se transformar em exemplo nacional. A senadora, que em companhia de outros membros da comissão esteve em visita à Pagrisa na quinta-feira, voltou a criticar duramente a ação realizada na empresa pelo grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho. “Eu fiquei chocada”, disse Kátia Abreu. “Aquilo ali foi uma aberração, um caso de polícia”, acrescentou, em referência aos procedimentos adotados pelo coordenador do grupo, o auditor fiscal Humberto Célio Pereira.
Destacou a senadora que a intenção da comissão externa do Senado que avalia o caso Pagrisa é achar uma fórmula capaz de adequar a legislação trabalhista, garantindo o bem-estar do trabalhador e, ao mesmo tempo, permitindo ao patrão manter a empresa em atividade e gerando empregos. “Essa é a nossa preocupação principal”, afirmou a relatora, assinalando, especificamente em relação à Pagrisa, que ela não conhecia a empresa e muito menos os seus proprietários. Acrescentou que os membros da comissão, e ela pessoalmente, esperavam encontrar na propriedade algumas distorções, sobretudo em relação às instalações físicas, aos alojamentos e aos refeitórios. “Não estou querendo fazer drama com a situação, mas a partir das apresentações e dos depoimentos dos trabalhadores, eu estou sinceramente chocada”, declarou Kátia Abreu, referindo-se às denúncias de trabalho escravo, feitas contra a empresa pelo auditor fiscal Humberto Célio Pereira, e à demissão de mais de mil trabalhadores, no início de julho deste ano. A denúncia formulada pelo coordenador do grupo móvel de fiscalização, segundo ela, terá que ser investigada pela Polícia Federal, já que, na sua avaliação, está claramente caracterizado o abuso de poder.
A senadora pelo Estado de Tocantins esquivou-se a responder se teria havido má-fé do chefe da fiscalização. “Com certeza houve abuso de poder nas ameaças de prisão ao dono da empresa, aos seus supervisores, aos seus coordenadores, na tentativa de esclarecer o que estava acontecendo aqui. Houve também o impedimento absoluto, até mesmo daqueles trabalhadores que foram estimulados a sair e que queriam retornar. Foram ameaças em cima de ameaças”, disse ela.
Outra circunstância que depõe contra o trabalho da fiscalização, segundo a senadora, foi a presença da imprensa internacional na cidade de Ulianópolis, simultaneamente com a fiscalização na Pagrisa. O que se tinha ali, segundo o seu relato, era um auditor fiscal aflito para chegar à imprensa internacional. “Um homem aflito, fazendo todos os laudos, assinando de qualquer jeito, com muita aflição, como se quisesse bater um recorde nacional e mundial de libertação de pessoas”, aduziu. Segundo ela, é inaceitável que um fiscal do Ministério do Trabalho, cuja missão é zelar pelo bem-estar do trabalhador, possa se arrogar o direito de coagir e ameaçar as pessoas, pelo simples capricho de se colocar sob as luzes da imprensa.

Jarbas prevê mudanças na legislação
O presidente da comissão externa do Senado para o caso da Pagrisa, senador Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE), disse ontem que o relatório da comissão, a ser apresentado nos próximos dias, deverá propor alterações na lei para redefinir as questões de trabalho degradante e trabalho escravo. Para o senador pernambucano, chega a ser mesmo um exagero a classificação de trabalho escravo, o que pressupõe, na sua avaliação, uma situação em que a pessoa trabalha acorrentada ou é obrigada a trabalhar de sol a sol. O que na verdade existe, segundo ele, são condições inadequadas de trabalho.
Para o senador Jarbas Vasconcelos, é preciso que a lei defina com clareza essas situações, até porque o problema de denúncias envolvendo condições degradantes de trabalho ou trabalho escravo é ruim até para a imagem do país. “Eu estou inteiramente à vontade para dizer isso porque faço oposição ao governo”, afirmou o ex-governador de Pernambuco, acentuando que trabalho escravo é uma coisa, enquanto condições inadequadas de trabalho é outra, muito diferente. E se for necessário mexer na legislação, conforme frisou, é importante que se possa aproveitar o episódio da Pagrisa. Já que ali esteve uma comissão de senadores, fazendo observação in loco, ele entende que o Senado deve tirar lições do episódio para, se for o caso, aprimorar a legislação trabalhista.

Frank Siqueira
Fonte: Jornal Diário do Pará (On-line), Caderno Regional – Belém, 21 de setembro de 2007 (www.diariodopara.com.br)

Deputados também questionam denúncias

Deputados estaduais que formaram a Comissão Parlamentar de inspeção sobre denúncia de trabalho análogo à escravidão na Pagrisa [Carlos Bordalo (PT), Márcio Miranda (DEM), Bosco Gabriel (PSDB)] apresentaram, ontem, na Assembléia Legislativa, o relatório da inspeção realizada e também questionaram a denúncia de prática de trabalho escravo contra a empresa, feita por uma equipe do Grupo Móvel de Fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego em julho.
As condições de trabalho oferecidas são percebidas como sendo regular (61,54%) e boa (38,46%). Com relação aos alojamentos, 76% acharam as condições ruins, por causa da lotação. A inspeção concluiu que, apesar de considerarem que os alojamentos excedem a capacidade aceitável e a água anteriormente era servida em estado natural, a maioria dos trabalhadores considerou a Pagrisa uma boa empresa, pois forneceria benefícios como: salário em dia, crédito em Ulianópolis garantido pela empresa e boas relações de trabalho dentro da mesma. O relatório deve ser encaminhado ao Departamento de Polícia Federal, Ministério Público Federal e Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho, Câmara Federal e Presidência da República.

Fábio Nóvoa
Fonte: Jornal Diário do Pará (On-line), Caderno Regional – Belém, 21 de setembro de 2007 (www.diariodopara.com.br)

Deputados vão inspecionar Pagrisa

Uma comissão parlamentar vai ao município de Ulianópolis, na rodovia Belém-Brasília para inspecionar a empresa Pará Pastorial Agrícola S/A (Pagrisa). A missão foi solicitada pelo líder do PT, deputado Carlos Bordalo. “Queremos mostrar que a empresa atua de forma correta com seus empregados e que as medidas tomadas contra ela podem prejudicar os trabalhadores e a economia da região,” defendeu o petista.
Em julho passado, O Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego realizou operação na empresa para apurar denúncia de trabalho escravo. Segundo Bordalo, não foi provado que a empresa tenha cometido esse crime. Mas, mesmo assim, o Ministério processou a demissão dos 1.108 funcionários. “A empresa não pode vender nem um litro de álcool por causa dessa decisão”. De acordo com o líder do PT, a Pagrisa gera 1.800 empregos diretos e 7.200 indiretos. Em 2006, a empresa recolheu R$ 7,8 milhões em impostos.
“Os efeitos da demissão em massa criaram um clima de insatisfação na comunidade de Ulianópolis, que sobrevive da pecuária e da indústria madeireira”, denunciou Bordalo. Na opinião dele, a ação do Grupo Móvel reflete os interesses de grandes indústrias usineiras do Sul do País em inviabilizar o crescimento do Pará no setor de produção de álcool e açúcar”. Bordalo informou que, após a inspeção - cuja data ainda não foi agendada- [esta inspeção foi realizada no dia 31 de agosto], a Assembléia Legislativa tomará uma medida política para rever o caso da Pagrisa.
A Pagrisa, que atua no Pará há 40 anos, possui 11.600 hectares plantados de cana de açúcar. A produção da safra 2006 foi de 720 mil toneladas de cana. O que resultou em 52 milhões de litros de álcool e 106 mil sacos de açúcar.

Por Rose Gomes
Fonte: http://www.alepa.pa.gov.br/noticias1.asp?cod=1723

22 setembro 2007

Florestas - Aluguel começa em Rondônia

O governo federal anunciou ontem qual será a primeira floresta de aluguel do país. As concessões para a exploração de madeira em reservas públicas da Amazônia começarão no ano que vem, numa área de 90 mil hectares da Floresta Nacional do Jamari, em Rondônia. Se tudo correr como planejado, o primeiro contrato de exploração será assinado em março.
A decisão de começar por Rondônia contraria a expectativa de que as primeiras licitações aconteceriam na região da BR-163, no Pará, onde o governo criou o primeiro Distrito Florestal Sustentável do país. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, a decisão de começar por Rondônia se deve aos índices de desmatamento do Estado, que estão aumentando - na contramão da média da devastação amazônica, que, se confirmada, será, em 2007, 30% inferior à de 2006. A expectativa é que, ao trazer empresas para explorar a madeira de forma sustentável, o governo iniba o corte ilegal (que abre caminho para o desmate).
Outro motivo foi o atraso na implantação do distrito da BR-163, causado principalmente pela greve do Ibama, no primeiro semestre. A greve impediu a realização dos estudos para o plano de gestão da área no Pará. “A Flona do Jamari já era uma área prioritária para o manejo muito antes da Lei de Florestas Públicas. Além disso, tem uma logística muito boa”, explica Tasso Azevedo, diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro. A floresta de Rondônia está a 13 quilômetros da rodovia BR-364, que é asfaltada. A BR-163 não é pavimentada. Segundo Azevedo, as concessões na região da BR-163 acontecerão na segunda rodada do processo, ainda em 2008.

Fonte: Jornal Diário do Pará (On-line), Caderno Brasil - Belém, 21 de setembro de 2007

21 setembro 2007

Jovens submetidos à escravidão são libertados por grupo móvel

Ação do grupo móvel de fiscalização do governo federal concluída nesta quarta-feira (19) libertou 20 trabalhadores rurais explorados em condições análogas à de escravidão em fazenda de gado localizada em Santa Luzia (MA). Quatro adolescentes com idade entre 16 e 17 anos foram encontrados entre as vítimas. Todos eles roçavam as pastagens da Fazenda Barbosa - pertencente ao comerciante Roberto Barbosa de Souza, que reside no município vizinho de Santa Inês (MA).
De acordo com o auditor fiscal do Ministério de Trabalho e Emprego (MTE) que coordenou a ação, Humberto Célio Pereira, a remuneração pela diária do roçado não estava sendo devidamente paga desde abril, quando os trabalhadores chegaram ao local. "Apenas alguns vales de pequenos valores de R$ 5 a R$ 20 foram distribuídos", relata o coordenador da ação.
Equipamentos de trabalho (como botina e foice) e artigos de higiene pessoal (sabonetes, etc.) eram descontados dos trabalhadores. Segundo Humberto, havia capangas fazendo o monitoramento da circulação de pessoas na Fazenda Barbosa, que tem uma área total de 1,2 mil hectares e fica às margens da BR-222, a cerca de 350 km da capital São Luís. O "gato" - como comumente é chamado o contratante intermediário da empreitada - Firmino Bezerra da Silva foi preso em flagrante portando uma espingarda e um revólver calibre 38.
Pelo relato do coordenador da ação que chegou no sábado (15) à Fazenda Barbosa, os trabalhadores estavam alojados em barracos forrados de plástico preto, de chão batido e sem água potável. Não havia banheiro nem luz elétrica. Para se alimentar, comiam arroz, feijão e, de vez em quando, carne de animais, quando eles mesmos caçavam.
A denúncia de trabalho escravo foi feita aproximadamente um mês atrás por um trabalhador que conseguiu fugir da propriedade. Segundo a procuradora do Trabalho Paula Silva Porto, que integrou o grupo móvel, o MPT pretende encaminhar ainda denúncia não apenas de crime de escravidão, mas também de abuso sexual e tráfico de drogas relacionadas ao caso para que sejam investigadas com mais cuidado pelo Ministério Público Federal (MPF), de São Luís, e pelo Ministério Público Estadual (MPE) do Maranhão.
As autoridades firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o fazendeiro que foi flagrado explorando mão-de-obra escrava. Ele desembolsou de imediato R$ 3 mil aos trabalhadores. Outro pagamento complementar de verbas rescisórias de direitos trabalhistas da ordem de mais de R$ 33 mil será efetuado no dia 30 de outubro.
O dono da fazenda assumiu ainda o compromisso no TAC, a título de indenizações por danos morais, de viabilizar obras na escola municipal que fica em frente à propriedade, no povoado de Arara. Os reparos incluem a reforma de dois banheiros e a instalação das redes elétrica e hidráulica na construção que recebe estudantes da região. Também serão adquiridos pelo fazendeiro um microcomputador e uma impressora para que posteriormente possam ser utilizados na instituição educacional.
Depois de serem libertados, os trabalhadores foram transportados numa van fretada pelo empregador até Açailândia (MA), onde a denúncia foi recebida, a 280 km da fazenda. Todos eles são do município de Pindaré-Mirim (MA), próximo a Santa Inês (MA). O "gato" Firmino já deixou o cárcere após o pagamento da fiança.

Por Beatriz Camargo e Maurício Hashizume, da Repórter Brasil
Fonte: http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1184

2° Encontro dos Povos da Floresta

Dezenove anos após o assassinato de Chico Mendes, o maior projeto político idealizado pelo ícone ambientalista volta a ganhar força. Reunidos desde terça-feira (18) em Brasília, centenas de indígenas, seringueiros, extrativistas e demais representantes de comunidades tradicionais participam do 2° Encontro Nacional dos Povos da Floresta. O encontro celebra a retomada da Aliança dos Povos da Floresta, entidade criada por Chico e composta por três importantes organizações do movimento socioambiental da Amazônia: o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e a rede Grupo de Trabalho Amazônico (GTA).
O primeiro encontro foi realizado em 1989, também em Brasília, alguns meses após a morte de Chico Mendes, que participou ativamente da organização do evento, mas não viveu o suficiente para ver os debates acontecerem. Desde então, a Aliança dos Povos da Floresta permaneceu adormecida, apesar das três organizações fundadoras continuarem existindo, crescendo e se inter-relacionando.
Nessas quase duas décadas, houve avanços, como frisou Jecinaldo Sateré-Mawé, presidente da Coiab: “Há 20 anos, os indígenas e demais povos tradicionais eram vistos no Brasil apenas como parte do folclore nacional. Desde então, graças às diversas lutas travadas pelas nossas organizações sociais, nós deixamos de ser folclore e passamos a ser atores sociais organizados”. Esse fortalecimento, diz Jecinaldo, permitiu que os povos da floresta influenciassem na adoção de políticas púbicas como a demarcação de Terras Indígenas e a criação das Reservas Extrativistas (Resex), entre outras, além de garantir a inclusão, na Constituição Federal, de parágrafos que garantem os direitos dos indígenas e afirmam a diversidade cultural do Brasil.
Contemporâneo de Chico Mendes nas lutas em Xapuri, no Acre, o vice-presidente do CNS, Júlio Barbosa, saudou “cada um dos companheiros que ajudou a criar a Aliança nos anos oitenta” e citou alguns nomes que já fazem parte da história do movimento, como Aílton Krenak, Dona Raimunda, Pedro Ramos e Raimundão, velho companheiro de Chico nos embates realizados para impedir as máquinas de colocar abaixo as árvores da floresta. Dona Raimunda e Krenak estavam na platéia e foram ovacionados pelos presentes.
Após afirmar que este segundo encontro é também “um momento de celebrar as conquistas que obtivemos nesses 20 anos”, Barbosa citou como exemplo do avanço nas lutas das populações tradicionais as figuras do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva: “A prova de nosso avanço é que uma de nossas companheiras nos embates, que tinha aquele como único instrumento de luta, é hoje ministra do Meio Ambiente. Outro companheiro, que na época nos ajudava apenas com seu apoio político, hoje é presidente da República”, disse.

“Ainda somos vulneráveis”
Não foram somente as lembranças das conquistas obtidas nos últimos anos, no entanto, que pautaram as intervenções de saudação ao 2° Encontro dos Povos da Floresta. As dificuldades ainda existentes e o longo caminho que ainda resta a ser trilhado na busca pela cidadania plena para as populações tradicionais também foram citados pelos oradores: “É preciso envolver os povos da floresta de uma maneira mais efetiva nas discussões sobre temas como o desmatamento das florestas, a preservação da biodiversidade e o combate ao aquecimento global”, disse Adílson Vieira, secretário-geral do GTA, que também defende a criação de mecanismos de incentivo econômico aos povos da floresta para que estes evitem o desmatamento e suas conseqüências.
“Para que os povos da floresta conquistem a cidadania plena, ainda falta o governo concluir os processos fundiários em nossas terras”, afirmou Jecinaldo Sateré-Mawé. Durante a cerimônia de abertura do encontro, diante de Lula e Marina, Jecinaldo fez outras cobranças ao governo federal: “É preciso paralisar as grandes obras de infra-estrutura que ameaçam nossas comunidades e fragilizam o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, disse o presidente da Coiab.
Jecinaldo aposta que a retomada das ações conjuntas sob a égide da Aliança dos Povos da Floresta vai dar nova dinâmica ao movimento: “Os povos da floresta no Brasil estão unidos, mas nós ainda estamos entre os mais vulneráveis atores sociais de nosso país. Somente com a participação dos povos da floresta, o Brasil conseguirá se tornar um país culturalmente diverso, socialmente justo e ambientalmente equilibrado”, disse.

Poesia e Milton Nascimento
Além de Lula e Marina, estiveram presentes na cerimônia de abertura do 2º Encontro dos Povos da Floresta os ministros Gilberto Gil (Cultura), Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário) e Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), além do governador do Amazonas, Eduardo Braga. Também participarão do evento, que termina no domingo (23), os governadores do Pará, Ana Júlia Carepa, do Acre, Binho Marques, e do Amapá, Valdez Góes.
A cerimônia foi realizada no Teatro Nacional, e contou com um público de mais de mil pessoas, que assistiu entusiasmado a uma apresentação de música da floresta com a cantora indígena Cláudia Ticuna e a declamação, feita pelo próprio, de um poema de Pedro Tierra em homenagem a Chico Mendes. A noite terminou com um show do cantor Milton Nascimento, acompanhado por sua banda e pela Orquestra Sinfônica de Brasília.

Maurício Thuswohl – Carta Maior
Fonte: http://www.agenciacartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=14633

19 setembro 2007

Nova Sudam?

Ao se pronunciar a palavra SUDAM, a primeira relação que se faz da mesma é com a prática de corrupção compulsiva. Tal realidade nem tanto reservada a bastidores e muito menos nova, foi o que mais lhe deu visibilidade. Locus de oligarcas da elite amazônica, e empresários do centro-sul, íntimos com a prática do patrimonialismo, a SUDAM lhes serviu como uma galinha de ovos de ouro por mais de três décadas. As denúncias festejadas na imprensa em 2000/2001 nasceram da refrega entre os coronéis Antonio Carlos Magalhães da Bahia e Jader Barbalho do Pará, quando governava o país Fernando Henrique Cardoso.
Na sua certidão de nascimento SUDAM significa, Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia. Juridicamente uma autarquia, criada através da Lei 5.173 de 27.10.66, em substituição a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia - SPVEA (Lei n.º 1.806 de 06. 01. 1953). A Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA) foi criada em substituição da mesma em 02 de maio de 2001. Por conta do catatau de denúncias de corrupção. Prestes ao seu renascimento, após a aprovação no Congresso Nacional, ocorre interrogar que caminho a mesma seguirá. A mesma atua no raio de nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Roraima, Rondônia e Maranhão). Tem a sua sede em Belém, capital do Pará.

Não foi a pororoca de corrupção publicizada que levou a extinção da SUDAM. Na verdade a alteração de estratégia já existia há pelo menos quatro anos, com base técnica. Tudo resultado na “nova” concepção do papel do Estado, exigida pela recente conjuntura da economia mundial, onde se prega a redução ao máximo do mesmo na economia. Bem como à crise fiscal e financeira que abala o país desde a década de 1980. Assim advoga parte da tese de doutoramento defendida em 2005 no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), da Universidade Federal do Pará (UFPA), do economista Sérgio Roberto Bacury de Lira, Morte e ressurreição da SUDAM: uma análise da decadência e extinção do padrão de planejamento regional da Amazônia.
Na análise do pesquisador a extinção da SUDAM em 2001, tratou-se de um oportunismo do Estado, que não colocou em debate a questão que seria central, o modelo de desenvolvimento regional com base em incentivos fiscais. O economista defende que a extinção da SUDAM resulta da desestruturação e término de um modelo de planejamento regional brasileiro.
Nos registros das academias sobre a SUDAM explica-se tratar de uma agência criada no sentido de promover o desenvolvimento regional. A integração da Amazônia ao restante do país com base em pesados incentivos fiscais às grandes empresas do centro-sul e mesmo internacional. Acreditava-se na tese de que só assim seria possível o desenvolvimento regional, tornando a região um pólo exportador interno e externo de produtos primários.
A segunda etapa do processo de industrialização marcava o contexto da época, onde se verificava a associação do capital industrial nacional com o internacional. Modelo gerido pela escola cepalina (Comissão Econômica para América Latina e Caribe), que ficou conhecido como de substituição de importação, onde o Estado exerceu papel central. Ao se investigar tal modelo de planejamento desenhado no regime militar, cuja característica principal residia na verticalidade, temos entre os resultados: concentração de terra e renda, internalização de passivos sociais e ambientais, além de transferência de riquezas.

Rogério Almeida é autor do livro Araguaia-Tocantins: fios de uma história camponesa/2006. Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), e colaborador da rede Fórum Carajás: www.forumcarajas.org.br
Correio eletrônico: araguaia_tocantins@hotmail.com

OBS: Esta é uma versão reduzida do artigo original. Para receber a versão completa, em PDF, envie mensagem para institutoamas@yahoo.com.br

Ação liberta 25 trabalhadores de fazenda de juiz no Maranhão

Em ação iniciada nesta quarta-feira (12) e ainda em curso, o grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) resgatou 25 pessoas de condições análogas à escravidão da fazenda Pôr-do-Sol, no município de Açailândia. Entre elas, havia um adolescente de 15 anos. Os trabalhadores faziam a derrubada da mata e o roço do pasto para o gado, com exceção de duas mulheres, que cozinhavam para o grupo. O dono da propriedade é Marcelo Testa Baldochi, juiz de direito da Comarca de Imperatriz, município vizinho, que tem cerca de 230 mil habitantes.
De acordo com a equipe de fiscalização, o juiz foi pessoalmente ao local e concordou em pagar as dívidas trabalhistas. Segundo estimativas do coordenador da ação, o auditor fiscal do trabalho Humberto Célio Pereira, o valor das rescisões contratuais, que está sendo calculado nesta sexta-feira (14), deve ficar em torno de R$ 32 mil.
O grupo móvel chegou ao local depois de denúncia feita no dia 3 de julho, por um trabalhador que havia conseguido fugir. Para o coordenador Humberto, o isolamento geográfico, a retenção de salários e a existência de dívida ilegal caracterizam a situação encontrada como trabalho escravo.
A Pôr-do-Sol fica a 170 km do centro de Açailândia e não há transporte regular entre os dois locais. As pessoas haviam chegado em junho e não estavam sendo pagas regularmente. "Tem gente que recebeu ao todo R$ 10,00, desde que chegou", exemplifica o auditor fiscal. Na cantina, os trabalhadores contraíam dívidas com artigos alimentícios e Equipamentos de Proteção Individual (EPI), como botas e luvas.
Até o momento do fechamento desta matéria, a Repórter Brasil não conseguiu localizar o juiz.

Tapera
A equipe descreveu as condições de alojamento como degradantes e insalubres. As 25 pessoas dormiam numa mesma tapera abandonada, sem água, energia elétrica ou banheiro. "Eles tinham que tomar banho e fazer as necessidades do lado de fora, sem privacidade nenhuma, inclusive as duas mulheres", lembra Humberto. Ele completa que a água não tinha condições de uso: para beber, lavar roupa, cozinhar e tomar banho, era preciso trazer água de um poço a 400 metros da casa, e transportá-la em um tambor de armazenar combustível.
A fazenda era administrada por dois gatos, conhecidos como Naldo e José "Bem-bem". O grupo móvel apreendeu duas motosserras e duas espingardas, mas não há indícios de que elas fossem usadas contra os trabalhadores.
De acordo com a procuradora Paula Silva Porto, representante do Ministério Público do Trabalho (MPT) na ação, também houve o compromisso do proprietário Marcelo Baldochi com o pagamento de uma indenização por danos morais coletivos. "Ele vai pagar o material para a construção de um alojamento para secagem do carvão em cubo, projeto de inclusão laboral do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) e mais 40 cestas básicas", explica.
Além disso, também houve a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre o MPT e Marcelo, que se compromete no documento a regularizar as condições de alojamento, trabalho e alimentação da fazenda em 90 dias. No sábado (15), após o pagamento das rescisões, os trabalhadores voltarão para suas cidades de origem, todas no próprio estado do Maranhão.

Por Beatriz Camargo, da Repórter Brasil
Fonte: http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1182

16 setembro 2007

Decisão no Pará confirma vínculo entre carvoeiros e siderúrgicas

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 8ª Região (Pará e Amapá), em decisão unânime em segunda instância, determinou a existência de vínculo empregatício entre trabalhadores encontrados em situação de escravidão em carvoaria localizada na região de Carajás e a Siderúrgica do Maranhão S. A. (Simasa), que utiliza o carvão vegetal na fabricação de ferro-gusa. Os 13 trabalhadores foram libertados depois de uma inspeção realizada por auditores fiscais do trabalho, acompanhados por procurador do MPT e policiais federais, nos dias 09 e 10 de março de 2006. À decisão cabe recurso.
“É uma decisão importante para o combate ao trabalho escravo porque dá margem a outras decisões parecidas e encerra uma polêmica que vinha se arrastando há muitos anos”, avalia Marcelo Campos, coordenador nacional dos grupos móveis de fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Para ele, trata-se de algo importante porque vem no sentido de fortalecer “os esforços que o MTE e o MPT têm feito no enfrentamento das terceirizações ilícitas feitas pelas siderúrgicas”. O posicionamento do TRT do Pará e do Amapá, no entanto, não deve diminuir a pressão sobre os grupos móveis de fiscalização, segundo ele. “Mas facilita a aplicação do procedimento que já vínhamos tendo”.
O plenário da 4ª Turma do Tribunal acatou a recomendação da relatora Vanja Costa de Mendonça e manteve o entendimento, já confirmado em primeira instância, de que os trabalhadores de carvoarias estão inseridos totalmente na atividade-fim das siderúrgicas produtoras de ferro gusa, considerando-se que essas últimas têm a necessidade vital do carvão vegetal, não se tratando apenas de insumo de produção.
Os desembargadores negaram o recurso apresentado pela Simasa que questionava principalmente o mérito da ação civil pública (ACP) encaminhada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) contra a empresa e outros três envolvidos. A ACP foi apresentada depois da fiscalização que flagrou as 13 pessoas sendo exploradas como escravos em carvoaria localizada na região do pólo siderúrgico de Carajás.
O fundamento do recurso da siderúrgica buscava derrubar a ação – por dano moral, inclusive - deslegitimando o vínculo direto de relação trabalhista entre a empresa e os trabalhadores encontrados em condição de trabalho escravo. De acordo com a decisão do Tribunal, “restou cristalino que a relação de emprego deve ser com a Simasa, na medida em que a mesma contratou empresa interposta, o que, além de ser considerado ilícito pelo ordenamento jurídico pátrio, faz valer a relação com o tomador de serviço”.
A produção do carvão vegetal pelos donos das carvoarias, prosseguiu a desembargadora Vanja Costa, “nada mais é do que atividade-fim da Simasa, que não esconde a necessidade de obter carvão vegetal de seus fornecedores para a produção permanente de ferro gusa, e que esse fornecimento chega a 60% do custo de produção do ferro”. Na decisão, a relatora ainda citou “o grande interesse” da siderúrgica em patrocinar a construção de fornos, alojamentos para os trabalhadores, fornecendo, até mesmo, equipamento de proteção individual (EPIs).
No depoimento dado por ocasião da fiscalização, Roberto Cardoso da Silva, “gerente” da fazenda flagrada, afirmou aos auditores ficais que a produção do carvão vegetal era monitorada por um funcionário da Simasa, que a empresa retinha R$ 4,50 por metro cúbico de carvão para efetuar o pagamento do 13º salário, INSS e FGTS dos trabalhadores, e que os valores dos salários dos trabalhadores da carvoaria, para fim de anotação na Carteira de Trabalho e Previdência Social, são fixados segundo uma tabela produzida pela própria Simasa.
Outro item destacado pela decisão foi o fato de a produção da carvoaria ser destinada exclusivamente à siderúrgica. Tal constatação “é fundamental para o reconhecimento de que a hipótese que se examina é de empresa interposta, em verdadeira fraude e burla aos direitos trabalhistas e, essa exclusividade ficou comprovada não só pelas declarações antes mencionadas, mas também pelos instrumentos particulares de fornecimento de carvão vegetal de compra e venda”.
A Simasa também questionou a existência de vínculo de emprego se fazendo valer do teor de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) para aplicação no Maranhão que, segundo a empresa, “visa a proteção dos direitos dos trabalhadores das carvoarias e, por outro lado, define o produtor de carvão como empregador originário dos trabalhadores nas carvoarias, considerando as siderúrgicas como beneficiário indireto, cabendo-lhe a responsabilidade subsidiária das obrigações trabalhistas para com seus empregados”. A desembargadora Vanja justificou a recusa de aplicação do TAC do Maranhão ressaltando que o referido acordo não cumpre “o seu objetivo maior, que é o de proteger e assegurar a dignidade dos trabalhadores de carvoarias, os quais sobrevivem em condições precárias e aviltantes”.
De acordo com informações do próprio TRT da 8ª Região, a Simasa entrou com um novo recurso contra a decisão no dia 6 de setembro. A peça chegou esta quinta-feira (13) à vice-presidente do Tribunal, Franscisca Oliveira Formigosa. Ela fará a análise da admissibilidade do mesmo. Caso o recurso não seja aceito, a empresa provavelmente entrará com um agravo de instrumento e o caminho natural seria o envio do processo ao Tribunal Superior do Trabalho (TST). E mesmo que o recurso não seja aceito, a ação também deverá ser encaminhada para avaliação do Tribunal Superior, se não houver nenhuma conciliação entre as partes.

Repercussões
A decisão do Tribunal do Pará vai ao encontro de outra tomada pela Justiça do Trabalho em Minas Gerais no ano de 2002, salienta Erlan do Prado, vice-coordenador da Coordenadoria de Combate ao Trabalho Escravo (Conaete) do MPT. Ele destaca que justamente por causa da restrição imposta no estado mineiro, produtores de carvão vegetal acabaram migrando para o Tocantins e para o Pará. “Com certeza, esta decisão contribui para que haja a regularização da relação de trabalho nas carvoarias. Sem dúvidas, é uma decisão favorável do Judiciário em favor dos trabalhadores”, comenta. O julgamento da questão no TST, que poderia conferir um alcance nacional para a questão, pode demorar bastante de acordo com Erlan, em função da possibilidade de apresentação de vários recursos por parte dos envolvidos.
Diretor da Simasa e presidente do Instituto Carvão Cidadão (ICC) – que desenvolve programas de combate à mão-de-obra escrava e é signatário do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo -, André Câncio contesta a decisão. “Não consideramos isso uma terceirização ilegal. As carvoarias estão a 500 quilômetros da siderúrgica, sem possibilidade de controle por parte da usina, em que o fornecedor tem todas as condições de cumprir a legislação trabalhista”, reclama.
Justamente para se precaver contra a “insegurança” causada pelas “interpretações difusas da terceirização”, a Simasa, desde fevereiro, está com todas as atividades suspensas. “Não há previsão de reabertura”, emenda. “Na Santa Inês [outra siderúrgica do grupo Queiroz Galvão, que controla a Simasa], estamos importando coque [carvão mineral] da Colômbia, utilizando carvão de eucalipto de nossas próprias fazendas e alguns projetos de expansão no Maranhão, onde temos controle total sobre os fornecedores, o que permite a manutenção das atividades”, relata André. “Como não conseguimos mudar a opinião do judiciário com relação a isso, vamos restringir a carvão reflorestado [de eucaliptos]”.

Por Beatriz Camargo e Maurício Hashizume, da Repórter Brasil
Fonte: http://www.reporterbrasil.com.br/exibe.php?id=1181

13 setembro 2007

Governo prepara mapa dos locais para lavoura de cana-de-açúcar

Em junho de 2008, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento deverá divulgar três coleções de mapas com orientações em quais áreas a lavoura de cana-de-açúcar é propícia, permitida e estimulada.
O anúncio foi feito pelo ministro Reinhold Stephanes em audiência pública na Comissão da Amazônia, Integração Nacional e de Desenvolvimento Regional da Câmara dos Deputados.
O primeiro conjunto de mapas avaliará clima e solo e a aptidão para a agricultura. A segunda coleção, baseada no zoneamento ecológico-econômico, reconhecerá áreas protegidas ambientalmente e destinadas às populações tradicionais, como quilombolas, indígenas e seringueiros.
Finalmente, o terceiro conjunto de mapas terá o levantamento dos terrenos onde plantio será incentivado. "É onde o governo vai incentivar que se plante cana. Aí são principalmente áreas de recuperação de terra degradada e áreas de pastagem", informou o ministro.
Reinhold Stephanes informou que o Ministério da Agricultura pretende criar um selo social de reconhecimento às empresas produtoras que respeitam a legislação ambiental e trabalhista. O governo também poderá conceder incentivo para as usinas que comprem a maior parte de sua matéria-prima de pequenos e médios produtores.
O gerente de Biocombustíveis do Ministério do Meio Ambiente, Mário Cardoso, adiantou que serão liberadas para plantação de cana as áreas na borda da floresta, como existentes em Roraima, Mato Grosso e Pará - já utilizadas para pastagem e degradadas, de terreno plano e clima seco.
"A cana necessita de um estresse hídrico, de falta de água durante um período da cultura, para poder acumular sacarose, que será transformada em etanol", explicou.

A produção do mapa está sendo feita em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente.

Gilberto Costa - Repórter da Rádio Nacional da Amazônia
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=6296&cat=

12 setembro 2007

Estado do Amazonas precisa de plano nutricional para crianças

A Secretaria de Saúde do estado do Amazonas e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome apresentaram em um encontro finalizado nesta terça-feira (11), em Manaus, os resultados de um estudo que serão utilizados para a criação de um plano de combate à desnutrição das crianças com menos de cinco anos da Região.
Realizado em 2006, o estudo avaliou quase cinco mil crianças de 43 municípios. Até o ano passado, o estado não tinha realizado nenhuma pesquisa que avaliasse a situação nutricional das crianças.
De acordo com a coordenadora da Secretaria de Saúde do Amazonas que esteve presente no encontro, Ester Mourão, a desnutrição no Amazonas está relacionada com a falta de assistência social e educação.
“A gente observou que nem todas as pessoas tinham acesso a serviços públicos. A baixa renda também foi evidenciada e é claro uma prevalência de desnutrição nas famílias de baixa renda e baixa escolaridade”.
Ester afirma que a desnutrição é maior no interior do que na capital. Os números apontam que a situação é mais grave na Região amazônica do que no semi-árido nordestino.
“Aí você reforça a intervenção do governo federal no semi-árido, da Unicef [Fundo das Nações Unidas para a Infância] com programas de resgate de cidadania, com programas de inclusão social e então percebemos o resultado. E por outro lado, na região Norte, os estados foram esquecidos”.
A pesquisadora questiona que nem sempre os recursos que o governo federal passa para a campanha de vacinação são suficientes, fator que complica ainda mais a situação.
O plano nutricional que será elaborado deve focar nas políticas públicas que combatem o ciclo da pobreza no Amazonas.

Juliano Domingues, da Radioagência NP
Fonte:
http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2953&Itemid=1

04 setembro 2007

Produtores rurais reivindicam criação de reserva extrativista no sul do Amazonas

Produtores rurais que vivem às margens dos rios Purus e Ituxi, em Lábrea, no sul do estado aguardam resposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) à proposta de criação de duas reservas extrativistas no sul do estado.
Duas propostas foram oficializadas, em 2001 e 2002, e na sexta-feira 20 pessoas encerraram vigília iniciada na véspera, na sede do Ibama em Lábrea, com o objetivo de chamar a atenção do poder público para a questão.
O chefe substituto do Ibama na cidade, Jeferson Lobato, explicou que a manifestação foi pacífica e que "eles queriam basicamente saber onde está o processo de criação das reservas e por que as duas ainda não foram criadas". E informou que colocou o grupo "em contato com os representantes do Ministério do Meio Ambiente e da Casa Civil, responsáveis pelo processo".
Na vigília, os produtores rurais contaram com o apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT), cujo coordenador local, padre Fernando Redonda, disse acreditar que as famílias poderão se beneficiar com a criação das reservas, "porque todas elas vivem do extrativismo". O apelo, acrescentou, é fruto das melhorias que podem ser agregadas ao trabalho dos moradores locais, a partir da homologação da área ambiental.
"Isso vai contribuir para o fortalecimento de associações e cooperativas, e ajudar bastante na vida dessas comunidades, que poderão extrair a castanha e o óleo de andiroba por meio de planos de manejo, e também vender – inclusive peixes – num mercado mais justo, tirando do caminho os atravessadores, que neste momento levam todo o benefício", afirmou.
O diretor do Departamento de Áreas Protegidas do Ministério do Meio Ambiente, Maurício Mercadante, informou que o processo está quase pronto e seguirá para a Casa Civil, onde será avaliado técnica e juridicamente. A partir daí, irá para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Estamos aguardando respostas para algumas consultas internas dentro do governo, como da Secretaria do Patrimônio da União, para cumprir todas as exigências, inclusive as legais. Tão logo essas respostas sejam apresentadas, vamos concluir a instrução do processo e encaminhar à Casa Civil em, no máximo, 15 dias", explicou.
De acordo com a CPT, a criação das reservas extrativistas dos rios Ituxi e Purus beneficiará diretamente cerca de 3,5 mil coletores de castanha e de borracha.

Amanda Mota
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=6214&cat=

Plantio de cana avança no Norte do país

A cana-de-açúcar chegou ao extremo norte do país. Empresas interessadas em produzir álcool tanto para o mercado local quanto para o exterior - a Venezuela é logo ali - já plantam suas mudas nas savanas do Estado de Roraima.
"Não está sendo plantado nada sobre a floresta amazônica, é bom que se diga. As áreas ocupadas são campos naturais, em um raio de 50 km de Boa Vista", explica Alvaro Callegari, secretário de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado.
Ele confirma que dez empresas já estão instaladas na região. E todas foram bem recepcionadas pelo governo. "Alguns já plantam soja no Centro-Oeste e agora resolveram investir aqui", diz o político.
Apesar de os pesquisadores amazônicos considerarem os campos de Roraima áreas importantes para a preservação da biodiversidade, Callegari usa um exemplo secular para explicar o uso dessas regiões.
"As savanas de Roraima são usadas pela pecuária há mais de um século, assim como ocorreu nos pampas gaúchos com os jesuítas", explica o secretário, que é curitibano e está há mais de 20 anos em Boa Vista.
"A qualidade de vida aqui é excepcional. O clima é ideal para a cana-de-açúcar, temos muita luz, por exemplo. Parece que estamos na praia."
As impressões climáticas relatadas por Callegari condizem totalmente com a realidade, segundo Milton Steagall, diretor de Desenvolvimento de Novos Negócios da Biocapital, empresa paulista recém-instalada na região de Boa Vista. "A iniciativa partiu da empresa, mas fomos muito bem recebidos pelo governo", afirma Steagall. Um dos incentivos fiscais já concedidos é o desconto no ICMS.
As expectativas de produtividade são muito boas, segundo o executivo. Sem citar números, ele diz que o rendimento da cana-de-açúcar nas savanas amazônicas - a empresa já obteve todas as licenças ambientais, segundo ele - deve ser superior ao obtido em São Paulo.
"A questão da produtividade é o fator determinante para a escolha de Roraima. Nas usinas de álcool, 70% do custo é a matéria-prima. Se a produtividade não for boa, o investimento pode ser colocado em risco."
Por enquanto, a Biocapital está na fase de multiplicar as mudas de cana plantadas em seus viveiros. A variedade levada para a Amazônia não foi desenvolvida especialmente para a região, mas a expectativa dos empresários é que os tipos escolhidos se adaptem totalmente ao solo amazônico.

Moagem em 2009
Pelo cronograma da empresa, o início da moagem deve ocorrer em 2009. Inicialmente, o projeto deve suprir o consumo apenas da região. "O objetivo é chegar a 2014 com uma capacidade de moagem de 6 milhões de toneladas, o que deverá render uma produção de 530 mil litros de álcool", explica o diretor da Biocapital, que preferiu não revelar o investimento feito pelo grupo.
As contas da empresa também projetam a geração de 5.600 empregos diretos e de 12 mil indiretos.
Como a usina será instalada em uma região de savana, a questão ambiental está resolvida, segundo Steagall. "O projeto não tem riscos ambientais."
De acordo com ele, a empresa está muito consciente da sua responsabilidade nas questões ambientais. "A questão fundiária, por exemplo, não atinge a Biocapital, pois parte das terras será da nossa propriedade, e uma outra parte, de terceiros, com os quais teremos contratos de arrendamento."
Se o discurso empresarial é mais comedido, o governamental é repleto de esperanças.
"Temos como plantar cana-de-açúcar em até 65% do nosso cerrado. São quase 4 milhões de hectares. A Venezuela será um grande mercado para nós, porque ela terá que tirar o chumbo da gasolina e, provavelmente, terá que o usar o álcool para ter um combustível mais limpo", lembra o secretário Callegari.

Eduardo Geraque
Fonte: http://www.ecodebate.com.br/Principal_vis.asp?cod=6215&cat=

01 setembro 2007

Liminar interdita assentamentos do Incra

Liminar concedida pelo juiz federal Francisco de Assis Garcês Castro Júnior, da Subseção de Santarém, determinou a interdição de 99 projetos de assentamento implementados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na região oeste do Pará, a partir de 2005 até este ano. As famílias assentadas não estão obrigadas a sair do local em que se encontram, mas ficarão impedidas de ter acesso a recursos públicos e de receber qualquer documento que ateste legalmente a posse plena dos lotes que receberam.
O magistrado também proibiu a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sectam) de emitir novos licenciamentos em projetos do Incra, como vinha fazendo, sob pena de ser multada em R$ 10 mil por dia. A interdição, segundo o juiz federal, vai perdurar até que o Incra obedeça às exigências legais que atribuem ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e não a um órgão estadual, a competência de fazer estudos de viabilidade e de emitir licença prévia de projetos de assentamento para os quais são repassados recursos federais.
Ao ajuizar a ação civil pública que resultou na concessão da liminar, o Ministério Público Federal (MPF) alega que tais projetos de assentamento atendem, em verdade, aos interesses do setor madeireiro, que “vislumbram nos assentamentos um estoque de matéria-prima cujo manejo é objeto de um licenciamento mais rápido”, emitido pela Sectam, e não pelo Ibama.
Acrescenta o MPF que diversos assentamentos foram criados sem estudos de viabilidade ambiental e com base apenas em levantamentos técnicos resumidos, sem informações geográficas, mapas ou perfil socioeconômico da região, em desobediência às normas internas do próprio Incra e às exigências do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Segundo o MPF, levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) estimou que 15% da floresta derrubada na região em 2004 situavam-se em assentamentos da reforma agrária. No caso dos projetos investigados pela Procuradoria da República em Santarém, verificou-se que vários assentamentos estão sobrepostos a unidades de conservação. Entre as unidades afetadas está, por exemplo, o Parque Nacional da Amazônia, área de proteção integral em Itaituba que não permite nenhuma ocupação humana.

Levantamento sobre impactos ambientais
Em sua decisão, Garcês observa que a Constituição Federal prevê que toda e qualquer atividade potencialmente causadora de “significativa degradação do meio ambiente” deve ficar condicionada a levantamento prévio sobre o impacto ambiental. Acrescenta que os indivíduos que atuam na atividade agrícola de subsistência, sobretudo os que dependem do benefício da reforma agrária, “não detêm condições para explorar a terra de forma racional e adequada, pois sempre se mostram norteados por práticas tradicionais do ambiente físico natural, onde impera, sobretudo, a realização de queimadas”.
Diz o magistrado que o Incra, com seus procedimentos, está incentivando atividade “potencialmente causadora de degradação ambiental”, uma vez que coloca à disposição de trabalhadores rurais “vastas porções de terras da União na Amazônia e sua cobiçada biodiversidade, sem, no entanto, proceder a uma necessária verificação dos efeitos que possam ser gerados ao meio ambiente, cuja atribuição, aliás, pertence exclusivamente aos setores específicos dessa função administrativo-ambiental”.

Fonte: Jornal Diário do Pará – On line, 28.08.2007, Caderno Regional.

Incra é acusado de destinar áreas de assentamentos para exploração de madeireiras

A Organização Não-Governamental (ONG) Greenpeace denunciou neste domingo, 19[de agosto], o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) por facilitar a atuação de empresas madeireiras em áreas de assentamentos rurais na região de Santarém (PA). As informações surgem da investigação intitulada “Aumentar a Imagem Manaus”, realizada nos últimos oito meses.
A legislação criada em 1999, pelo próprio Incra, diz que a reforma agrária na região deve ser feita em áreas griladas ou já desmatadas. No entanto, o Greenpeace mostra que o Incra destina áreas florestadas para a criação de falsos assentamentos. Na negociação, as empresas madeireiras trabalham na implementação da infra-estrutura destes locais – tarefa que seria do Incra – e em troca ficam com o direito de explorar a madeira da área.
O Incra então destina para essas áreas pessoas que são meras exploradoras e não verdadeiros assentados. A tática seria responsável por um “mascaramento” dos números da reforma agrária na região. Dados do Incra mostram que em Santarém estão 25% dos assentados do estado do Pará, no entanto, o integrante do programa Amazônia do Greenpeace, André Muggiati, alega que as informações são falsas.
“O que está acontecendo é uma desvirtuação disso tudo. Estão sendo promovidos assentamentos pegando as pessoas na periferia de Santarém e aí essas pessoas estão sendo destinadas pra esses assentamentos que no caso nem existem. Essas continuam na periferia de Santarém, as áreas destinadas para esses assentamentos estão ocupadas pelas madeireiras e no entanto essas pessoas constam na listagem do Incra como tendo sido assentadas.”

Juliano Domingues, da Radioagência NP.
Fonte: http://www.radioagencianp.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=2819&Itemid=1

Justiça do PA questiona terras de megalatifundiário fantasma

A Justiça Federal no Pará decretou a indisponibilidade da Fazenda Novo Horizonte, município de Paragominas, no sudeste do estado. No dia 13 último, a juíza federal substituta da Subseção Judiciária de Castanhal, Carina Cátia Bastos de Senna, suspendeu o plano de manejo florestal do imóvel. A fazenda supostamente foi vendida por "Carlos Medeiros", um megalatifundiário fictício: criado há 30 anos por grileiros, ele tem em seu nome 9 a 12 milhões de hectares, área igual a 1% do território nacional, ao território de Portugal ou ao de Santa Catarina.
As "propriedades" de "Carlos Medeiros" se estendem por 32 municípios do Pará, um dos estados recordistas em grilagem de terras. Desde a década de 1970 uma quadrilha de grileiros atua no estado sob essa cobertura.

"Grilagem notória"
No caso da Fazenda Novo Horizonte, a ação civil foi proposta pelo Ministério Público Federal, juntamente com o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). A ação pública solicita que a madeireira Cobra Agropecuária e o comerciante Norberto Antônio Hubner paguem indenização por danos morais e materiais pela exploração de madeira da propriedade.
“Há fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, eis que os demandados estão extraindo, de forma irregular, madeira integrante da Floresta Amazônica, o que pode levar à degradação do meio ambiente, já que o plano de manejo foi aprovado baseado em documento de propriedade fraudulento”, diz a decisão da juíza. Motivo: “é nulo o título que fundamenta a propriedade do imóvel, como se depreende da farta documentação apresentada até o presente momento”.
Em dezembro do ano passado, sentença do juiz federal da Subseção de Altamira, Herculano Martins Nacif, declarou a nulidade das certidões de outras 44 propriedades rurais situadas na região do Xingu, com titulação ligada ao megalatifundiário fantasma. O juiz considerou “a notoriedade de grilagem originada por fraude que remonta a Carlos Medeiros”. As fazendas somam 547 mil hectares, uma área equivalente à do Distrito Federal.

Grileiro fantasma surgiu há 32 anos
"Carlos Medeiros" tem carteira de identidade (92.093-SSP/PA) e CPF (034.992.182-34) mas na verdade nunca existiu. Foi criado em 1975, em Belém, quando uma quadrilha de grileiros forjou um inventário do qual faziam parte sesmarias (forma de titulação fundiária que vigorou no Brasil de 1532 até 1835) em nome de dois portugueses mortos mais de 150 anos antes. Foi em julho de 1975 que advogados a serviço da grilagem pediram a reconstituição da relação de bens, apresentando-se como representantes de um certo Carlos Medeiros, suposto herdeiro das terras.
O personagem fictício foi apresentado como o herdeiro do inventário, que inclui 1.100 títulos de terras. O inventário dos bens dos sesmeiros portugueses, Manoel Joaquim Pereira e Manoel Fernandes de Souza, tinha desaparecido no fim dos anos 60 do Cartório do 6º Ofício do Fórum de Belém.
O juiz Armando Bráulio Paul da Silva (mais tarde afastado por corrupção, em outro caso) autorizou, mesmo sem comprovação da herança, a demarcação das terras e dos títulos definitivos. Resultaram oito volumes, com 2.685 páginas de documentos, acompanhados de sucessivos alvarás para registro e venda de terras nos cartórios. A partir dessa legitimação de supostos direitos, o fantasma Medeiros e seus procuradores foram habilitados como sucessores nas sesmarias dos Manoel.
Os dois principais autores da fraude já morreram, após muitos bons negócios com as terras de "Carlos Medeiros". No caso de um deles, Marinho Gomes de Figueiredo, a morte está cercada de mistério. Seu corpo foi encontrado no quarto de um hotel, ao lado de uma pasta com conteúdo documental explosivo, envolvendo algumas figuras notáveis do mundo da terra no Pará.
O fantasma de Carlos Medeiros é um bom exemplo do quanto são nebulosos os negócios ligados à propriedade fundiária no Pará. E ajuda a entender por que o estado permanece há muitas décadas como campeão nacional em mortos em lutas pela terra.

Fonte: http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=24216