23 setembro 2007

Para senadora, caso [Pagrisa] deve ser exemplo

Relatora da comissão temporária externa da Pagrisa, criada pelo Senado para apurar as denúncias de trabalho escravo feitas contra a empresa pela fiscalização do Ministério do Trabalho, a senadora Kátia Abreu (DEM/TO) disse ontem que este caso deverá se transformar em exemplo nacional. A senadora, que em companhia de outros membros da comissão esteve em visita à Pagrisa na quinta-feira, voltou a criticar duramente a ação realizada na empresa pelo grupo móvel de fiscalização do Ministério do Trabalho. “Eu fiquei chocada”, disse Kátia Abreu. “Aquilo ali foi uma aberração, um caso de polícia”, acrescentou, em referência aos procedimentos adotados pelo coordenador do grupo, o auditor fiscal Humberto Célio Pereira.
Destacou a senadora que a intenção da comissão externa do Senado que avalia o caso Pagrisa é achar uma fórmula capaz de adequar a legislação trabalhista, garantindo o bem-estar do trabalhador e, ao mesmo tempo, permitindo ao patrão manter a empresa em atividade e gerando empregos. “Essa é a nossa preocupação principal”, afirmou a relatora, assinalando, especificamente em relação à Pagrisa, que ela não conhecia a empresa e muito menos os seus proprietários. Acrescentou que os membros da comissão, e ela pessoalmente, esperavam encontrar na propriedade algumas distorções, sobretudo em relação às instalações físicas, aos alojamentos e aos refeitórios. “Não estou querendo fazer drama com a situação, mas a partir das apresentações e dos depoimentos dos trabalhadores, eu estou sinceramente chocada”, declarou Kátia Abreu, referindo-se às denúncias de trabalho escravo, feitas contra a empresa pelo auditor fiscal Humberto Célio Pereira, e à demissão de mais de mil trabalhadores, no início de julho deste ano. A denúncia formulada pelo coordenador do grupo móvel de fiscalização, segundo ela, terá que ser investigada pela Polícia Federal, já que, na sua avaliação, está claramente caracterizado o abuso de poder.
A senadora pelo Estado de Tocantins esquivou-se a responder se teria havido má-fé do chefe da fiscalização. “Com certeza houve abuso de poder nas ameaças de prisão ao dono da empresa, aos seus supervisores, aos seus coordenadores, na tentativa de esclarecer o que estava acontecendo aqui. Houve também o impedimento absoluto, até mesmo daqueles trabalhadores que foram estimulados a sair e que queriam retornar. Foram ameaças em cima de ameaças”, disse ela.
Outra circunstância que depõe contra o trabalho da fiscalização, segundo a senadora, foi a presença da imprensa internacional na cidade de Ulianópolis, simultaneamente com a fiscalização na Pagrisa. O que se tinha ali, segundo o seu relato, era um auditor fiscal aflito para chegar à imprensa internacional. “Um homem aflito, fazendo todos os laudos, assinando de qualquer jeito, com muita aflição, como se quisesse bater um recorde nacional e mundial de libertação de pessoas”, aduziu. Segundo ela, é inaceitável que um fiscal do Ministério do Trabalho, cuja missão é zelar pelo bem-estar do trabalhador, possa se arrogar o direito de coagir e ameaçar as pessoas, pelo simples capricho de se colocar sob as luzes da imprensa.

Jarbas prevê mudanças na legislação
O presidente da comissão externa do Senado para o caso da Pagrisa, senador Jarbas Vasconcelos (PMDB/PE), disse ontem que o relatório da comissão, a ser apresentado nos próximos dias, deverá propor alterações na lei para redefinir as questões de trabalho degradante e trabalho escravo. Para o senador pernambucano, chega a ser mesmo um exagero a classificação de trabalho escravo, o que pressupõe, na sua avaliação, uma situação em que a pessoa trabalha acorrentada ou é obrigada a trabalhar de sol a sol. O que na verdade existe, segundo ele, são condições inadequadas de trabalho.
Para o senador Jarbas Vasconcelos, é preciso que a lei defina com clareza essas situações, até porque o problema de denúncias envolvendo condições degradantes de trabalho ou trabalho escravo é ruim até para a imagem do país. “Eu estou inteiramente à vontade para dizer isso porque faço oposição ao governo”, afirmou o ex-governador de Pernambuco, acentuando que trabalho escravo é uma coisa, enquanto condições inadequadas de trabalho é outra, muito diferente. E se for necessário mexer na legislação, conforme frisou, é importante que se possa aproveitar o episódio da Pagrisa. Já que ali esteve uma comissão de senadores, fazendo observação in loco, ele entende que o Senado deve tirar lições do episódio para, se for o caso, aprimorar a legislação trabalhista.

Frank Siqueira
Fonte: Jornal Diário do Pará (On-line), Caderno Regional – Belém, 21 de setembro de 2007 (www.diariodopara.com.br)