18 fevereiro 2008

Com licença poética

Por Ivonete Coutinho – UFPA/Campus Universitário de Altamira

Dorothy a Menina-mulher.
Quando ela nasceu / um anjo esbelto desses que tocam trombeta anunciou:
Vai carregar bandeira!
- Cargo muito pesado para mulher. Isto ele falou baixinho quase sussurrando.
Mas, ela ouviu e aceitou a missão a qual fora enviada. Mesmo que, no momento não tenha questionado, nem reclamado da crítica angelical atribuída à fragilidade feminina, e também não tenha perguntado qual seria a bandeira que deveria carregar. O colo materno e o afago familiar eram mais acolhedores naquele instante em que despontava para a vida.
O tempo passou, a menina inquieta, meiga e afetuosa seguiu o seu caminho. Estudou e tornou-se professora, mas a bandeira que até então ela empunhava, não chegava a ser tão pesada como dissera o anjo. Pois, não pensem que ela esqueceu do anúncio daquele anjo formoso! A todo instante sentia que devia procurar a sua bandeira o seu verdadeiro estandarte, e foi assim que descobriu o caminho da vida religiosa.
A haste que deveria carregar era o evangelho de Jesus Cristo e propagar o seu Amor, a sua Verdade e a sua Justiça além das fronteiras. E ao descobrir a sua missão em Cristo, se comprometeu em carregar as bandeiras da justiça, da paz e da igualdade social. Isto sim, parecia uma tarefa muito pesada, para os homens e as mulheres que se propunham a propagá-las.
Mas, Dorothy não se intimidou e se propôs a divulgar essas bandeiras em terras longínquas. Assim chegou ao Brasil. Aqui, juntos aos camponeses sem terra, às mulheres empobrecidas, às crianças marginalizadas, às famílias fragmentadas pelas desigualdades sociais ela sentiu no corpo e na alma, o quanto era carregada a sua missão. Mas será que esse anjo não exagerou? Afinal estava nascendo uma frágil menina, por que incumbi-la de tamanha missão? O que tinha de especial àquela menina-mulher?
Tinha um sorriso ingênuo e uma coragem incondicional.
Tinha uma fé inabalável e uma insaciável sede por justiça social.
Tinha uma esperança movedora de ações concretas e eficazes.
Tinha uma sensibilidade aguçada para os problemas humanos e um olhar especial para os pobres e injustiçados.
Tinha uma invejável disposição física e um jovem coração que se contrapunham aos setenta anos, de uma vida intensa.
Tinha também, a infinita capacidade de organização social, de levantar bandeiras em defesa da vida. Afinal, essa era a sua missão, assim anunciara o anjo. Mas, ele se enganou ao sussurrar que este cargo era pesado para mulher. Não para Dorothy, que conduzia as suas bandeiras com firmeza e paz de espírito. Todavia, a sua luta e as suas bandeiras, se tornaram pesadas para algumas pessoas. Talvez aquelas que ao nascer nenhum anjo lhes anunciou mensagens de Paz, de Amor, do Perdão, da Justiça, da Partilha, se anunciou, elas esqueceram-nas completamente.
Pensamos que por isso, essas pessoas não suportavam as vozes e as bandeiras erguidas em defesa da vida e de uma sociedade mais justa e fraterna. E munidos de poder e de frias armas, derrubaram por terra, a entusiástica guardiã e defensora daqueles que não tinham voz. Esta parte o anjo esqueceu de avisar... Portanto, anunciamos aos céus, ao anjo e aos homens e mulheres de boa vontade, que as bandeiras propagadas por Dorothy devem continuar erguidas e flamejantes, mostrando que sua vida e sua luta permanecem presentes no meio do povo que ela tanto amou e defendeu.