Sob o signo da contradição, tendo como tema a Amazônia, a Campanha da Fraternidade foi lançada no dia 21 de fevereiro em Belém, Pará, na lha do Combu. É a primeira vez que o lançamento da campanha ocorre fora de Brasília. Com o tema “Vida e Missão neste chão”, o documento base alerta para a condição periférica da região.
Sinaliza sobre o tratamento de autoridades, empresas e setores da economia em relação à diversidade da fauna social da região. Estão contemplados no documento migrantes, colonos, indígenas, sem terra, assentados, agricultores, quilombolas entre outros. As pelejas que empreitam para a manutenção do território e suas condições de reprodução da vida.
Ao pinçar sobre o processo de colonização da região, o texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pondera sobre a associação do Estado com o capital privado nacional e estrangeiro na integração da região. Caminhada que cimentou a concentração de terra e renda, primou na violação de direitos humanos, escravizou e ainda escraviza homens, mulheres e crianças.
Jornada que elevou o Pará ao primeiro lugar no ranking da execução de dirigentes que defendem a reforma agrária, meio ambiente, direitos humanos e seus pares. Modelo de colonização que optou pelo uso intensivo dos recursos naturais, responsável pela devastação da floresta, a exemplo de pólos de siderurgia no Pará e Maranhão, e pelas monoculturas, como a da soja.
A contradição da campanha
A contradição reside nas peças publicitárias da campanha em Belém, que explicita o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Uma das maiores empresas de mineração do mundo, que domina uma fatia robusta do território do Pará, em particular no sudeste do estado, e que se encontra justo em oposição aos atores sociais que a CNBB preconiza defender. Uma nota divulgada por um conjunto de instituições, entre elas a Comissão Pastoral da Terra (CPT), alerta para a questão.
O rosário de projetos da CVRD, que tem investido pesado em logística, a exemplo de hidrelétricas, minerodutos, portos e ferrovias, vai de encontro às populações marginais da região. Em São Luís, capital do Maranhão, a empresa tem projeto de uma grande siderurgia em associação com capital estrangeiro.
Na ilha de São Luís tal modelo de projeto, além do grande impacto ambiental que provocará na cidade, que já padece de problemas com abastecimento de água, deverá afetar várias comunidades tradicionais. Algumas seculares. Lá estão pescadores, agricultores e extrativistas. A denúncia vem do coletivo de entidades sociais denominado Reage São Luís.
No Pará há uma peleja da CVRD com comunidades quilombolas no município de Mojú. No começo do mês um cabo de alta tensão provocou um acidente no quilombo. Um menino de 10 anos teve os dois braços quebrados e algumas costelas fraturadas. O cabo integra o linhão de energia de expansão de suas empresas de alumina e alumínio no município de Barcarena. Nenhum registro foi feito na mídia local.
No mesmo município uma associação de ex-técnicos vitimados no processo de trabalho nas fábricas busca por uma compensação. Segundo a Associação em Defesa dos Reclamantes e Vitimados por Doenças do Trabalho na Cadeia Produtiva do Alumínio no Estado do Pará (ADRVDT), há ex-operários com problemas mentais, respiratórios, na coluna e ossos. As doenças teriam como fonte o convívio com produtos químicos na produção do alumínio, e exaustivas jornadas de trabalho.
É indiscutível o poder da empresa, que no momento encontra-se no estágio de mundialização. Se no Canadá há todo um processo de garantir empregos e um guarda-chuva de segurança das populações locais, depoimentos de alguns técnicos e ex-técnicos, os atritos com alguns setores considerados tradicionais da região amazônica destoam. O peso da empresa privatizada em 1997, no processo considerado crime de lesa pátria, tende a submeter políticos e meios de comunicação locais a seus horizontes.
Se o vínculo com a CVRD não compromete a campanha, no mínimo deixa um profundo arranhão na proposta.
Sinaliza sobre o tratamento de autoridades, empresas e setores da economia em relação à diversidade da fauna social da região. Estão contemplados no documento migrantes, colonos, indígenas, sem terra, assentados, agricultores, quilombolas entre outros. As pelejas que empreitam para a manutenção do território e suas condições de reprodução da vida.
Ao pinçar sobre o processo de colonização da região, o texto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) pondera sobre a associação do Estado com o capital privado nacional e estrangeiro na integração da região. Caminhada que cimentou a concentração de terra e renda, primou na violação de direitos humanos, escravizou e ainda escraviza homens, mulheres e crianças.
Jornada que elevou o Pará ao primeiro lugar no ranking da execução de dirigentes que defendem a reforma agrária, meio ambiente, direitos humanos e seus pares. Modelo de colonização que optou pelo uso intensivo dos recursos naturais, responsável pela devastação da floresta, a exemplo de pólos de siderurgia no Pará e Maranhão, e pelas monoculturas, como a da soja.
A contradição da campanha
A contradição reside nas peças publicitárias da campanha em Belém, que explicita o patrocínio da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). Uma das maiores empresas de mineração do mundo, que domina uma fatia robusta do território do Pará, em particular no sudeste do estado, e que se encontra justo em oposição aos atores sociais que a CNBB preconiza defender. Uma nota divulgada por um conjunto de instituições, entre elas a Comissão Pastoral da Terra (CPT), alerta para a questão.
O rosário de projetos da CVRD, que tem investido pesado em logística, a exemplo de hidrelétricas, minerodutos, portos e ferrovias, vai de encontro às populações marginais da região. Em São Luís, capital do Maranhão, a empresa tem projeto de uma grande siderurgia em associação com capital estrangeiro.
Na ilha de São Luís tal modelo de projeto, além do grande impacto ambiental que provocará na cidade, que já padece de problemas com abastecimento de água, deverá afetar várias comunidades tradicionais. Algumas seculares. Lá estão pescadores, agricultores e extrativistas. A denúncia vem do coletivo de entidades sociais denominado Reage São Luís.
No Pará há uma peleja da CVRD com comunidades quilombolas no município de Mojú. No começo do mês um cabo de alta tensão provocou um acidente no quilombo. Um menino de 10 anos teve os dois braços quebrados e algumas costelas fraturadas. O cabo integra o linhão de energia de expansão de suas empresas de alumina e alumínio no município de Barcarena. Nenhum registro foi feito na mídia local.
No mesmo município uma associação de ex-técnicos vitimados no processo de trabalho nas fábricas busca por uma compensação. Segundo a Associação em Defesa dos Reclamantes e Vitimados por Doenças do Trabalho na Cadeia Produtiva do Alumínio no Estado do Pará (ADRVDT), há ex-operários com problemas mentais, respiratórios, na coluna e ossos. As doenças teriam como fonte o convívio com produtos químicos na produção do alumínio, e exaustivas jornadas de trabalho.
É indiscutível o poder da empresa, que no momento encontra-se no estágio de mundialização. Se no Canadá há todo um processo de garantir empregos e um guarda-chuva de segurança das populações locais, depoimentos de alguns técnicos e ex-técnicos, os atritos com alguns setores considerados tradicionais da região amazônica destoam. O peso da empresa privatizada em 1997, no processo considerado crime de lesa pátria, tende a submeter políticos e meios de comunicação locais a seus horizontes.
Se o vínculo com a CVRD não compromete a campanha, no mínimo deixa um profundo arranhão na proposta.
Rogério Almeida é autor do livro Araguaia-Tocantins: fios de uma história camponesa/2006. Mestre em Planejamento do Desenvolvimento pelo Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), e colaborador da rede Fórum Carajás: www.forumcarajas.org.br
Correio eletrônico: araguaia_tocantins@hotmail.com
Foto: Dion Monteiro (Portão de entrada da Floresta Nacional de Carajás, Parauapebas/PA)