Os moradores, os comerciantes, e os amantes da praia do Marahú, praia esta que se destaca por ser um dos últimos recantos preservados da ilha de Mosqueiro, uma das muitas ilhas que compõe o território do município de Belém, capital do Estado do Pará, no norte do Brasil, estão passando por momentos dramáticos neste início de ano ao verem a força das marés destruindo a estrada de acesso, os bares e restaurantes, as casas, as instalações elétricas e hidráulicas, enfim destruindo um pouco da vida daqueles que ali moram, ou freqüentam.
Segundo informações dos moradores, a Prefeitura de Belém, após ser procurada, primeiramente sinalizou que não faria nenhuma intervenção na área, alegando que seriam gastos recursos públicos em uma obra que não resolveria o problema diante da força inevitável das marés, indicando que seriam feitos estudos para a construção de uma estrada passando por trás das casas e edificações comerciais, construindo ainda acessos à praia.
Diante do estado de emergência em que vive, a comunidade se mobilizou, inclusive acionando a imprensa para proporcionar maior visibilidade ao dilema que está passando, cobrando das autoridades municipais ações imediatas para conter o referido problema, resultando esta medida em um mutirão para colocação de sacos com areia e cimento, buscando a contenção das águas, mutirão este que envolveu a comunidade e técnicos da prefeitura. Mas com o ritmo lento das obras, o processo de erosão só tem avançado.
Em um tempo onde às previsões quanto às mudanças climáticas no planeta são alarmantes, faz-se necessário que as autoridades constituídas unam-se para debater, com as comunidades envolvidas, soluções inteligentes, que de forma atenta à necessidade de preservação ambiental, restabeleça a trafegabilidade de vias de acesso, bem como a segurança de construções existentes nesses tipos de comunidades.
Ao invés da construção de muros de arrimo (demanda dos moradores da praia em questão) ou da abertura de outras estradas, cortando e arrasando as florestas de várzea existentes (ambas alternativas de alto impacto ao meio ambiente), pode-se imaginar a elaboração, coletiva, de outras saídas para este grave problema. Alternativas que necessariamente devem ser pensadas concebendo a natureza não como adversária, mas como sábia mestra.
A união dos poderes públicos constituídos, considerando-se as três esferas de governo, com a comunidade, e uma equipe multidisciplinar de técnicos, pode gerar outras soluções para este tipo de problema, como por exemplo à colocação de uma contenção verde, formada por uma zona de floresta entre a praia e a estrada, a plantação de grama na estrada ao invés de asfalto, a colocação de uma cerca com pedras para a redução da força das águas, etc.
O mais importante é conceber alternativas ambientalmente corretas, que inclusive podem servir de experiências piloto para a intervenção em outras áreas com problemas semelhantes. Pode-se dizer mesmo que as soluções concretas para se salvar o planeta passam necessariamente por ações pontuais, criativas e inovadoras.
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Foto: Nao Abe (Exemplo da força das marés na Amazônia)