15 abril 2007

A Cultura de dendê (Elaeis guinnensis) e seus aspectos mercadológicos para o Brasil

O dendezeiro é a oleaginosa que mais produz óleo por área plantada dentre as diversas oleaginosas mapeadas e existentes no Brasil (Silva, 2005). Além de contribuir para a fixação do homem no campo, constitui uma alternativa viável e rentável para a recuperação de áreas alteradas, incluindo ser uma cultura extremamente versátil, sendo dela aproveitado os óleos da semente (óleo de palma) e do mesocarpo (óleo de palmiste), os cachos, os resíduos do processo de extração de óleo (glicerina), entre outros usos.
Neste contexto, o Brasil possui cerca de 70 milhões de hectares adequados para essa cultura, estas áreas encontram-se na região norte, com predomínio de 50 milhões no Estado do Amazonas e 20 milhões no Pará (Embrapa, 2000), e em concentrações menores nos estados do Amapá, Rondônia e Roraima. Segundo a Embrapa (1995) já apontava, cerca de 23,7% das áreas do Estado do Pará estão aptas para o cultivo do dendê. Podendo ser indicada como cultura predominante da região norte para a produção de combustíveis alternativos e bioeletricidade. O dendê é uma planta originaria da África, trazida ao Brasil, pelos escravos, que se adaptou bem ao clima tropical úmido do litoral baiano e região norte do Brasil. Silva et al. (2003) também consideram que a totalidade de áreas ou zonas classificadas como de alta e média potencialidade correspondem aproximadamente a 23,7% do território paraense, essas áreas têm condições de produzir dendê para absorver grandes demandas internas e externas, o que tornaria o Estado do Pará e o Brasil, no ranking mundial, o maior produtor e exportador de óleo de palma do mundo.
O óleo de dendê foi apontado como umas das soluções tecnicamente satisfatórias para substituir o óleo diesel. Observou-se que
1 litro de óleo vegetal pode substituir 1 litro de óleo diesel, para cuja produção seriam necessários 2,2 litros de petróleo bruto (Brasil, 2005). Os subprodutos da indústria extratora têm grande potencial para serem utilizados na co-geração de energia elétrica em uma região bastante carente, e com baixa aptidão para a instalação de hidroelétricas, no caso de regiões isoladas na Amazônia. O óleo bruto que é produzido atualmente pela indústria paraense está entre os melhores do mundo, com grau máximo inferior a 3% de acidez, em relação a 3,5 a 5% na média mundial. Com a verticalização da cadeia produtiva, o óleo de dendê poderá ser envasado e comercializado a partir do Estado do Pará, que poderá também fabricar sabonetes, margarinas, gorduras vegetais e outros produtos alimentícios, e biocombustíveis a partir de seus resíduos industriais (SUDAM, 2000). Neste cenário, o Estado do Pará despontava as primeiras produções em 1975 com culturas em caráter experimental com agricultores familiares em 355 ha, distribuídos por 25 propriedades agrícolas, as quais estavam associadas à cooperativa Agrícola Mista Paraense (COOPARAENSE) (Monteiro et al., 2006). Atualmente o Pará lidera a produção nacional de óleo de palma e possui potencial para expansão desta importante cadeia produtiva. No ano de 2006 o estado do Pará registrou índices de cultivos de dendê de aproximadamente 46.963 ha de área plantada com uma produção de 747.666t/CFF1/ano (SAGRI, 2006).
A perspectiva de plantio em regiões alteradas na Amazônia pode ser uma estratégia importante para estimular o crescimento da cultura da palma na região e inserir a região norte nas metas estabelecidas para a produção de biodiesel especificadas pelo Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel.
O óleo de palma tem ocupado, nos últimos anos, lugar de destaque na produção mundial de óleos e gorduras. Prova disso foi o expressivo crescimento experimentado na participação deste tipo de óleo no mercado mundial. Segundo dados de Malysian Palm Oil Counci (MPOC), em março de 2007, destacou-se que a produção mundial de óleo de palma, neste momento, alcança 149.116 MT, contando com a participação expressiva deste commodities no cenário internacional de óleos, tendo como principais países produtores de óleo de palma no ranking mundial: Indonésisa, com 18,366 MT; Malaysia, com 18,139 MT (em área cultivada somada a 4 milhões de hectares); Argentina, 8,222 MT; Brasil, com 7,222 MT, Colômbia, 867 MT, etc. Sendo seus principais mercados consumidores em expansão mundial, a UE, EUA, China e Japão com grandes perspectivas de assimilar a produção de biocombustíveis de origem de palma.
Frente às demais oleaginosas, o dendê exibe perspectivas otimistas no mercado mundial futuro, principalmente para os setores alimentícios e de combustíveis alternativos. O momento é oportuno para a região Amazônica, e para o nosso país, pois podemos mostrar ao resto do mundo as extraordinárias condições que este espaço geográfico dispõe para contribuir com a economia nacional na exploração desse importante produto, a produção de biodiesel a partir de espécies oleaginosas nativas ou exóticas da região, como o dendê, como fonte alternativa de energia para o processo de desenvolvimento socioeconômico do país, e principalmente, apoiado em bases produtivas da agricultura familiar, com a geração de emprego e renda para os milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais deste fantástico espaço geográfico, chamado de Amazônia.

Prof. Msc Katia Fernanda Garcez Monteiro
Correio eletrônico:
kfgarcez@amazon.com.br
Este texto é um resumo expandido do artigo original. Para receber a versão integral do mesmo (em PDF) envie mensagem para institutoamasblog@yahoo.com.br