A ameaça da implantação da Hidrelétrica de Belo Monte continua a mobilizar os movimentos sociais na região do rio Xingu no Pará. A hidrelétrica de Belo Monte faz parte de um conjunto de outras barragens, previstas para o rio Xingu, que se forem de fato executadas, trarão sérios impactos as terras de milhares de povos da região desde os indígenas até os ribeirinhos e os próprios moradores da principal cidade da região, que é Altamira (Pará).
O discurso governamental é alarmista, alega que, se Belo Monte não for construída, o país corre sério risco de sofrer novos “apagões”. Na visão estreita dos governos Federal e estadual, o crescimento econômico está acima dos interesses dos povos amazônicos. Eles retomam um discurso e uma prática típicos de regimes autoritários e investem na imagem de um governo preocupado em mitigar os efeitos negativos que se abaterão sobre a população da região.
O modelo energético é fundado sobre grandes barragens, mesmo a sociedade brasileira já tendo discutido, desde a década de 90, modelos alternativos de geração de energia que causassem menos impactos sociais e ambientais. O governo, efetivamente, pouca atenção e investimento deu a essas propostas.
O modelo energético brasileiro é também injusto, pois de um lado garante energia a preços baixos e subsidiados pelo Estado para grandes consumidores como as indústrias eletrointensivas, que são as principais interessadas, junto com as empreiteiras, na construção de grandes barragens. No outro extremo, estão as populações que vivem próximas às hidrelétricas que invariavelmente dispõem de um serviço de péssima qualidade oferecido pelas distribuidoras de energia. E, no meio disso tudo, fica a sociedade brasileira pagando altas taxas pelo consumo de energia elétrica nas suas casas.
Para evitar essa perspectiva sombria é que as populações da Amazônia estão se mobilizando, como aconteceu no último dia 14 de março em Altamira, no Seminário sobre Belo Monte.
Estiveram presentes 12 lideranças Kaiapó Xikrin da região do rio Bakajá e também representantes do povo Arara, da aldeia Cachoeira do Maia (TERRÃ-WANGÃ). A participação deles no encontro foi fundamental. O seminário começou com a formação de uma mesa a qual os índios fizeram questão de participar. As comunidades Kaiapó afirmaram nunca aparecer em qualquer estudo realizado pela Eletronorte.
Na apresentação, o cacique Bekatenti Xicrin, da aldeia Morotiidjan, declarou que a comunidade Kaiapó é contra essa barragem e que estão preocupados com o futuro do rio Bakajá, porque é dele que eles dependem para comer, beber e se deslocar para cidade. O Bakajá, segundo estudos paralelos, tende a secar de tal maneira que nenhum tipo de navegação será possível.
Bekatenti disse ainda que o objetivo da presença deles era de mostrar para todos que eles existem e que estão prontos para lutar pela sua sobrevivência. Em seguida, perguntou por que não tinha ninguém da Eletronorte para falar com eles.
As atenções estavam voltadas para qualquer pronunciamento dos índios, porque estavam todos pintados e armados com suas bordunas e tomaram toda primeira fila do auditório.
O seminário encerrou-se com um abraço no rio Xingu e com a dança dos índios em frente ao Centro Cultural da Eletronorte na beira do Cais da Cidade. Eles queriam mesmo dançar dentro das instalações da empresa e mostrar toda sua resistência a este projeto.
A participação indígena foi muito positiva, porque dessa vez os índios não serviram apenas de “papel de parede”, mas participaram como os principais atores da discussão.
Fonte: http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=2447&eid=257