01 junho 2007

Barcarena - na cidade do alumínio prevalece a força

Faz 10 anos que a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi privatizada. O leilão é questionado por ações judiciais que sinalizam para a ação como um crime de lesa pátria. A empresa é uma das maiores mineradoras do mundo. Talvez seja esse poder que provoca o silêncio dos ditos grandes meios de comunicação, que não pinçam nenhum debate sobre a questão. Como a mobilização popular para o Plebiscito contra a privatização, a ser realizado em setembro.
Mesmo poder se estende aos meios de comunicação onde opera a companhia. Nenhuma letra que macule a imagem é veiculada. Acidentes ambientais, condições insalubres, doenças laborais, as mazelas do entorno e a intervenção da empresa na eleição sindical dos Químicos de Barcarena. Nada se tem notícia. Como Buda em seu castelo, vive-se o paraíso.
No processo eleitoral para a eleição da diretoria e do conselho fiscal do Sindicato dos Químicos de Barcarena, encerrado no dia 28 de maio de 2007, com a vitória da chapa organizada pela direção da fábrica Alunorte, seguiu-se o riscado. Reinou o silencio absoluto. Quem incomodaria um anunciante e patrocinador de inúmeros eventos nos mais diferentes níveis?
A intervenção da direção da fábrica foi decisiva no resultado do pleito. Transbordou o empenho do staff em mobilizar, cooptar e organizar a chapa de oposição. O intento era límpido: neutralizar o Sindicato que tem mantido uma postura aguerrida. Ao contrário do Sindicato dos Metalúrgicos, que reúne os operários da fábrica de Alumínio, Albrás. Visivelmente amansado. Como um velho leão de circo.
Entre as ações pode-se pontuar que a direção da fábrica semeou acusações sem fundamento e propostas na mesma vala. Entre elas o reajuste em 100% do ticket alimentação serviu como carro chefe. O ticket que a categoria conseguiu com várias rodadas de negociação e até greve de fome, subiria de R$150,00 para R$350,00. No boletim da chapa patronal lê-se que o prazo estipulado é 90 dias a contar da posse, 01 de junho. Com caráter retroativo a nova gestão.
Uma série de calúnias foi disseminada. Como a invenção de ameaça de seqüestro de um dos filhos da coordenação da chapa opositora. A ofensiva da chapa patronal motivou o gesto tresloucado do senhor Wilson Rodrigues Lana, presidente da comissão eleitoral, a ir a sede do Sindicato com três capangas armados. A intenção era a intimidação para assinatura de uma ata alterada de assembléia que deferiu pela legitimidade da CHAPA CUTISTA. O fato que ocorreu no dia 22 de maio foi registrado na delegacia local, que tem a viatura doada pelas empresas.
Há informes de assédio no dia da eleição. E ao melhor estilo curral eleitoral, transporte em ônibus e táxi de funcionários de férias e folga. Dois ônibus foram vistos carregando os operários. Venceu a força da grana. Perde a ainda em construção democracia. A CVRD no Pará avança em inúmeras frentes. Não é interessante o ruído de um Sindicato combativo.
Observadores externos e representantes da CUT encaminharão relatórios sobre o processo eleitoral no Sindicato dos Químicos de Barcarena para diversas esferas nacionais e internacionais do trabalho. Entre elas a Organização Internacional do Trabalho (OIT), o Ministério do Trabalho e a Delegacia Regional do Trabalho. A agenda inclui ainda a organização de uma oposição sindical com vistas a enfrentar a temporada de caça às bruxas.

Tá tudo dominado - A Alunorte e a Albrás, empresas da CVRD, conformam um dos maiores complexos de alumínio do mundo. A primeira transforma bauxita em alumina, matéria prima para a produção do alumínio. O município de Barcarena, próximo a Belém, capital do Pará, sedia as plantas industriais, que tem na energia elétrica o principal insumo.
No caso das fábricas da CVRD e da concorrente Alcoa (ALUMAR), com sede em São Luís, Maranhão, a energia subsidiada vem da hidrelétrica de Tucuruí. Sob os enquadramentos da economia o empreendimento é considerado um enclave. Ou seja, não dinamiza a economia local. A abundância de recursos, mão de obra barata, fragilidade na vigilância do Estado, azeitam a instalação do empreendimento.
A cadeia do alumínio se encontra em franco processo de expansão. A hidrelétrica de Tucuruí teve a sua capacidade produtiva duplicada. Minas no município de Paragominas, nordeste do Pará, são exploradas para reforçar a antiga mina em Oriximiná, oeste do estado. Na mesma região, no município de Juruti, a multi-nacional Alcoa inicia uma conturbada exploração de mina. Há ações dos Ministérios Público Estadual e Federal contra a atuação da ALCOA.
A CVRD pretende ainda a construção de uma usina termoelétrica em Barcarena. O direcionamento em logística tem sido uma sinalização da companhia, em particular na geração de energia. O saque das riquezas e a internalização das tragédias sociais e ambientais têm regido tais modelos de projeto na Amazônia.
O emprego, a renda e o desenvolvimento são vendidos como o elixir da redenção de todos os males nas comunidades atingidas. Tudo calçado numa musculosa política de marketing e ações denominadas de responsabilidade social.

Alumínio - a costela do Carajazão - A produção do alumínio em Barcarena surgiu ao apagar das luzes da década de 1970. Integra o conhecido Programa Grande Carajás (PGC). Como as outras pernas do PGC, a produção do alumínio emergiu com tons de modernidade no interior da selva.
Sem relação com o seu entorno, as fábricas Albrás e Alunorte foram erguidas. Deu-se a redefinição da geografia local e a criação da cidade empresa (company town), Vila dos Cabanos. Ironia das ironias, uma referência a um dos principais movimentos revolucionários do país no século XIX, a Guerra dos Cabanos ou Cabanagem.
A lógica da cidade empresa é o controle da vida livre e laboral do funcionário, o que o coloca num estado de constante prontidão. A conformação das casas se dá mediante o cargo do operário nas fábricas. Numa indisfarçável segregação. Uma série de obras de infra-estrutura do projeto inicial nunca saiu do papel.

Rogério Almeida é colaborador da rede www.forumcarajas.org.br
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