02 junho 2007

Hidrelétrica de São Luís do Tapajós divide opiniões na região Oeste

A notícia de que a construtora Camargo Corrêa deve concluir ainda neste semestre o levantamento do potencial hidráulico do rio Tapajós e do Jamanxim, seu afluente, na região de Itaituba, sudoeste do Estado [do Pará], como já era esperado colocou em lados opostos ambientalistas e a classe empresarial de Santarém.
O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Santarém, Olavo Neves, disse que a entidade é totalmente favorável a instalação da hidrelétrica. Para o empresário, a usina vai potencializar a região Oeste, deixando-a preparada para receber grandes investimentos e chamando atenção de grandes empresas do País. 'Projetos de maior porte na região estão inviáveis por falta de energia. Muitas empresas se afastam e grandes projetos deixam de ser implementados porque não temos energia suficiente', diz Olavo.
A hidrelétrica deve beneficiar também algumas empresas que já estão instaladas na região como é o caso da Alcoa, que possui uma mina de extração de bauxita no município de Juruti, a 150 km de Santarém. O presidente da empresa, Franklin Feder, já acenou para a construção de uma indústria de beneficiamento de alumina em Santarém, fato que foi visto com bons olhos pelo poder público municipal e pela classe empresarial.
O prefeito de Itaituba, Roselito Soares, também acha que a construção da hidrelétrica vai aumentar a oferta de energia para cobrir a demanda de várias regiões do País. Mas defende o cuidado com o meio ambiente. 'Para nós, todo investimento que promova o desenvolvimento da região é bem vindo, desde que seja adequado ao modelo de desenvolvimento sustentável. Entendo que o governo federal, em relação à Vila de São Luís do Tapajós deva fazer um estudo sobre os possíveis impactos ambientais e suas conseqüências para as populações tradicionais que são os ribeirinhos, bem como as comunidades indígenas', afirma Roselito.

DEFESA
A Frente em Defesa da Amazônia (FDA), que possui sede em Santarém e que liderou juntamente com o Greenpeace uma das maiores campanhas contra o crescimento do plantio da cultura de soja na Amazônia, já se manifestou contra a instalação da usina no rio Tapajós.
'O objetivo do governo é atender aos interesses das mineradoras que estão se instalando na região', dispara Gilson Rego, da coordenação da FDA. Ele afirma ainda que empreiteiras também serão favorecidas com a construção da usina, além de haver um forte impacto ambiental na região. 'O projeto vai causar revolta entre as populações tradicionais que moram na região que vai ser atingida. O governo não ouviu ninguém até hoje, mas já anuncia a obra. Isso muda a dinâmica das populações', argumenta Gilson, acrescentando que o Movimento dos Atingidos por Barragens (MBA) já articula a instalação de sede em Santarém.
O diretor de Programa para América Latina da International Rivers Network (Rede Internacional de Rios), Glenn Switkes, disse por telefone à reportagem que o governo federal está se precipitando a elaboração do projeto da hidrelétrica, que se chamará São Luis do Tapajós.

Alailson Muniz - Agência Amazônia
Fonte: Jornal “O Liberal” - Edição: Ano LXI - nº 31.767 Belém, sexta-feira, 01/06/2007